O distanciamento eleitoral do fiduciário político de José Sócrates – António Costa de seu nome – em relação a António José Seguro justifica-se por três razões:
Seguro mostrou um desconhecimento brutal do Partido que liderava. Isto demonstrou-se claramente quando, no último debate na RTP, António José Seguro resolveu associar António Costa aos interesses ocultos que existem dentro do PS. E nominalizou: Nuno Godinho de Matos, o administrador dos BES, mudo e surdo, verdadeira marioneta humana, que ia picar o ponto e levantar o dinheirinho à sede do BES. Primeiro erro: Seguro cometeu algo que, em Portugal, é considerado um crime político – concretizou as acusações, deu um rosto. Ora, deu um presente de bandeja a Costa: a vitimização funciona sempre muito bem eleitoralmente. Em segundo lugar, os militantes do PS não aplicam a moralidade ou a ética pública no juízo de actos dos seus militantes: por muito graves que sejam as suas condutas, os militantes do PS defendem-se colectivamente. Por muitas falcatruas que façam, para os militantes socialistas, a “gente” do PS é sempre heróica! É um traço que vem desde Mário Soares e que aproxima os socialistas portugueses dos comunistas. Um exemplo: Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, resolveu ser testemunha abonatória, de defesa, de Armando Vara no processo “face oculta”! Os militantes do PS só são moralistas quando se trata de condenar gente do PSD ou do CDS. Dentro do partido, são todos bons – e António Costa Sócrates capitalizou o desconhecimento do partido revelado por Seguro;
O efeito de contágio das massas. A comunicação social há muito que já tinha dado a vitória a António Costa Sócrates – na última semana, essa vontade foi particularmente descarada. Neste quadro, os militantes e simpatizantes indecisos resolveram acompanhar um facto que já se afigurava como consumado, dando uma outra dimensão à vitória de Costa Sócrates. Acima de tudo, os socialistas quiseram evitar que esta luta se prolongasse por mais tempo: e João Soares prestou um excelente serviço ao António dos 70, quando deu a entender que se poderia candidatar no Congresso, em caso de derrota de Seguro! E Mário Soares impulsionou o Costa quando chamou idiotas aos ministros e imbecil a Seguro…O PS é um partido sob permanente tutela de Mário Soares, por mais disparatado que Soares seja!
Os socialistas ficaram com a ideia de que Passos Coelho venceu o debate quinzenal na sexta-feira. Debate em que António José Seguro deveria ter arrasado o Primeiro-Ministro que estava chamuscado com o caso Tecnoforma. E como não gostaram da figura um bocadinho triste de Seguro, converteram a sua fúria em votos pró-Costinha. Só que vamos ver se o Costinha é o rotweiler, sempre pronto a morder Passos Coelho, que os militantes socialistas querem.
Por último, refira-se que é sempre animador ver que os apoiantes que tiveram a honra de subir ao palco com António Costinha Sócrates foram gente nova, tão competente e politicamente sensata, gente da MUDANÇA, como Eduardo Ferro Rodrigues, Catarina Mendes (mulher de Paulo Pedroso e a singularíssima presidente das mulheres socialistas), Mário Lino (grande Mário Lino, o do Jamais!, ministro de Sócrates, do Aeroporto de Alcochete que se converteu em Ota, que se converteu em coisa nenhum, depois de se gastar dinheiro…), Duarte Cordeiro (um jovem socranete, reciclado por Costa), Manuel Alegre (que está sempre do lado vencedor e que revela falta de amor próprio: porque no dia seguinte à sua derrota nas presidenciais, José Sócrates ligou a Mário Soares para lhe dizer: “ conseguimos lixar o gajo!”, para mais pormenores é ler a biografia de Mário Soares escrita por Joaquim Vieira) e muitos mais rostos da renovação política…
De segunda a sexta-feira João Lemos Esteves assina uma coluna de opinião no SOL