Costa quer ‘neutralizar’ as esquerdas

A fotografia de António Costa, ladeado por Rui Tavares e Ana Drago, no 1.º Congresso do Livre, fez crescer as expectativas sobre possíveis acordos à esquerda nas próximas legislativas. 

Costa quer ‘neutralizar’ as esquerdas

Mas para o líder do BE, João Semedo, o novo líder do PS não está interessado em “fazer pontes”. “Costa anunciou que quer maioria absoluta. Quando se procura isso, não se fazem pontes. Não se trata de uma política dialogante à esquerda, mas de conseguir neutralizar outras forças e conseguir que o apoiem”, diz ao SOL.

Rui Tavares, do Livre, e Ana Drago, da Fórum Manifesto, que saíram em ruptura do BE, vão juntos às eleições de 2015 – só ainda não foi revelado de que forma. E Tavares tem assumido publicamente que o PS é um parceiro essencial para uma convergência à esquerda. 

Semedo critica o rumo que as novas esquerdas estão a tomar: “O caminho do Livre e do Manifesto é reforçar o PS, fazer um acordo político com o PS para governar. A diferença é que nós queremos disputar a hegemonia e os votos com o PS e ter força suficiente para afirmar uma alternativa de esquerda”.  

No primeiro momento político após a vitória nas primárias – o discurso no 1.º Congresso do Livre –, António Costa não se comprometeu com alianças, mas deu um sinal político de aproximação. Disse que “há várias formas de governar que não passam, necessariamente e só, pela coligação”, mas “ter maioria absoluta não significa auto-suficiência”. 

PCP e BE estão atentos. Semedo nota, com “curiosidade”, que o centro do primeiro congresso de um partido tenha sido o líder de outro partido. Numa altura em que o BE ameaça dividir-se – com a UDP a lançar um candidato à liderança, Pedro Filipe Soares, contra a actual direcção de Semedo e Catarina Martins –, o objectivo dos bloquistas é colar a imagem das novas forças emergentes ao PS, realçando que o eixo da sua estratégia é apenas alcançar um acordo de governo com os socialistas. E tentam desvalorizar o ‘efeito Costa’, com Semedo a lembrar que as legislativas têm uma “dinâmica política” diferente das autárquicas. 

Já o PCP radicalizou o discurso e, nas jornadas parlamentares desta semana, assumiu como prioridades a necessidade de preparar o país para a saída do euro – até agora os comunistas só tinham admitido essa possibilidade –, o controlo público da banca e a renegociação da dívida.

sonia.cerdeira@sol.pt