Dois detidos nos vistos gold ligados a interesses imobiliários

A investigação da Justiça sobre os vistos gold ontem desencadeada atingiu o coração da Administração Pública, com a detenção de três altos dirigentes. Dois deles estão ligados a empresas de imobiliário e construção.

Braço-direito de Paula Teixeira da Cruz, Maria Antónia Moura Anes, já apresentou a demissão do posto que há três anos dirigia: a Secretaria-geral do Ministério da Justiça. Segundo o SOL apurou, Anes detém uma empresa (Leite e Anes, Lda) que se dedica, entre outras actividades, à “construção, compra de prédios para revenda e arrendamento, projectos e investimentos”.

Criada em 2008, em sociedade com o marido – engenheiro civil e avaliador de imóveis desde 1979 – a empresa tem sede no Parque das Nações, em Lisboa, onde o casal é proprietário de imóveis de valor avultado.

Maria Antónia Anes, 56 anos, tem um longo percurso nos meandros políticos: trabalhou dois anos no departamento de informações da Polícia Judiciária (PJ), foi adjunta de dois ministros (Aguiar-Branco, em 2005, e Laborinho Lúcio, em 1992) e geriu a candidatura a fundos comunitários quando passou, em 2004, pelo Instituto dos Registos e Notariado.

O actual director deste organismo, António Figueiredo, de 57 anos, também caiu agora nas malhas da Justiça. Segundo noticiou a revista Sábado, em Junho, é amigo pessoal do ministro Miguel Macedo e tem uma filha, Ana Luísa Figueiredo, que gere uma empresa de arrendamento, compra e venda de imóveis também sob investigação: a Golden Vista Europe, constituída em Outubro de 2013. Trata-se de uma sociedade por quotas detida por quatro portugueses e dois empresários chineses.

Figueiredo e Moura Anes foram nomeados na sequência de concurso conduzido pela Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (Cresap), criada em Maio de 2012 com o objectivo de garantir isenção e transparência nas escolhas para altos cargos na função pública.

Detenção e buscas no coração da Administração Publica

Manuel Jarmela Palos, ontem também detido, é um histórico: tem 23 anos de carreira no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que dirige desde 2005, tendo sido nomeado pelo então ministro da Administração Interna, António Costa, e reconduzido pelos sucessores Rui Pereira e Miguel Macedo. Palos tem somado louvores ao longo dos anos, incluindo estrangeiros.

As 60 buscas de ontem, em todo o país, chegaram ainda ao gabinete de Albertina Gonçalves, secretária-geral do Ministério do Ambiente (que tutela o Ordenamento do Território) e que já apresentou a demissão. Esta dirigente é sócia do ministro Miguel Macedo num escritório de advogados: a Miguel Macedo & Albertina Gonçalves – Sociedade de Advogados, que consta da declaração de interesses entregue pelo governante na Assembleia da República, em 2009.

Na operação de ontem, ao todo, foram detidas 11 pessoas, numa megaoperação coordenada pelos dois juízes do Tribunal Central de Investigação criminal, Carlos Alexandre e João Bártolo.

catarina.guerreiro@sol.pt e sonia.graca@sol.pt