É chocante, mas não é nada de novo e é sintomático do espírito de ódio e de vingança que impera na região. Houve israelitas a fazê-lo durante a chamada Operação Margem Protectora (que matou 2.200 palestinianos, a maioria civil). Sinal de que 'olho por olho, dente por dente' continua a ser lei, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu prometeu uma “resposta dura” ao ataque terrorista levado a cabo na manhã de terça-feira que fez oito mortos (atacantes incluídos) e vários feridos.
O presidente da Autoridade Palestiniana não perdeu tempo a condenar o atentado, mas os estragos na imagem de Mahmoud Abbas e do Governo de unidade estão feitos, numa altura em que se somavam apoios internacionais. A nova responsável pela diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, já disse que a independência da Palestina é o maior objectivo do seu mandato.
Em meados de Outubro, o Parlamento britânico aprovara uma moção a favor do reconhecimento da Palestina como Estado por parte do Governo. Ainda na terça-feira, no mesmo dia do ataque na sinagoga, o Congresso espanhol aprovou quase por unanimidade (dois votos contra e uma abstenção) uma resolução semelhante. No final de Outubro, o Governo da Suécia dera esse passo. “Com o reconhecimento queremos sobretudo dar o nosso apoio às forças moderadas palestinianas”, declarou então a ministra Margot Wallstrom.
Mas esta posição é de difícil sustentação, quando o Hamas, grupo extremista que controla a Faixa de Gaza, e que está presente no Governo de unidade desde Junho, se congratulou com o ocorrido. Um porta-voz da organização considerou que se tratou de uma vingança da morte de um condutor de autocarro e pediu mais atentados. Segundo os palestinianos, o condutor de 32 anos foi assassinado por colonos judeus, ao passo que as autoridades israelitas asseveram que se tratou de um suicídio.
Lobos solitários
O ataque à sinagoga deu-se um pouco antes da oração das sete horas. Os dois palestinianos – que os serviços secretos do Estado hebraico consideram ser “lobos solitários” -, armados com revólveres e cutelos, atacaram indiscriminadamente, matando quatro rabinos, até à chegada de dois polícias de trânsito. Seguiu-se um tiroteio que acabou com a vida dos atacantes e dos agentes.
Este é o mais recente capítulo do avolumar de tensões nas últimas semanas na cidade santa. A meio de notícias da expansão de colonatos, deram-se atentados a israelitas, um dos quais ao rabino Yehuda Glick. Este ultranacionalista defende a reconstrução do Templo de Salomão no espaço da Esplanada das Mesquitas, um dos locais mais venerados pelos muçulmanos.
Após o atentado, ao qual Glick sobreviveu, Telavive encerrou a Esplanada das Mesquitas, uma decisão inaudita desde 1967 e que enfureceu os palestinianos. O presidente da Autoridade Palestiniana acusou então Israel de preparar uma “guerra religiosa” e manteve o direito de defender a mesquita de al-Aqsa por “todos os meios” – o que foi considerado pelos israelitas um incitamento à violência. Agora, Telavive acusa-o de ser responsável pelo atentado. “As mãos que pegaram nos machados eram dos terroristas, mas a voz era de Abbas”, atacou o ministro da Informação, Yuval Steinitz.
Cronologia:
3 adolescentes israelitas são sequestrados e assassinados (13 de Junho)
1 adolescente palestiniano é queimado vivo (2 de Julho)
2189 palestinianos são mortos em Gaza na Operação Margem Protectora (8 de Julho a 26 de Agosto)
73 israelitas mortos no mesmo período
1 bebé e um adulto israelitas são atropelados mortalmente numa paragem de autocarro (22 de Outubro)
4 tiros atingem o radical Yehuda Glick, que sobrevive (29 de Outubro)
2 israelitas morrem em novo atropelamento (5 de Novembro)
10 de Novembro é dia de dois atentados, dos quais resultam quatro mortos