Daqui podem resultar duas consequências: a primeira é o afastamento crescente entre a política e os cidadãos, patente, por exemplo, no crescimento imparável da abstenção; a segunda é o enfraquecimento do centro e o consequente crescimento das franjas políticas.
O PS pode ver fugir votos para o PCP, para o Bloco de Esquerda, e mesmo para o Livre: como estes partidos não entram nos governos, alguns eleitores podem vê-los como compostos por pessoas mais honestas.
Além disso, todos os partidos podem perder votos para o novo partido de Marinho e Pinto, ou para outros, semelhantes, que surjam. Mas é de admitir que, mesmo que o PSD perca alguns votos, o PS perderá sempre mais, o que resultará em ganhos relativos para o PSD face ao PS.
Assim, e apesar de, potencialmente, todos serem perdedores, o embaraço do PS é indiscutível. António Costa deu a estratégia: “Uma coisa é a justiça, outra coisa é a política”, mas, num partido como o PS, é possível que nem todos a sigam. Basta pensar nas afirmações de João Soares, que hoje se referiu à prisão de Sócrates como “injusta” e “injustificada”.
Certo é que o processo judicial encaminha-se agora para julgamento, que poderá ter sessões diárias, e que essas sessões terão presença permanente na comunicação social. Isso, claro, será péssimo para o PS.
Como não me canso de escrever, António Costa é um político muito hábil. Necessariamente, terá algo a dizer sobre este assunto no congresso do próximo fim-de-semana. E um congresso é sempre um momento indicado para animar as hostes.