Óscares 2015. Debaixo de fogo: Sniper Americano

Discutir um filme pela sua ideologia é um caminho sinuoso – basta pensar em O Nascimento de Uma Nação (1915), de D.W. Griffith, usado como ferramenta de recruta para o Ku Klux Klan e que ficou na História da sétima arte como uma das suas primeiras obras-primas. 

E no entanto, todos os anos, a mesma discussão borbulha por ocasião dos Óscares a propósito de um filme de pelotão (O Sobrevivente, de Peter Berg, 00:30 Hora Negra ou Estado de Guerra, de Kathryn Bigelow, e por aí fora).

Não é para menos que a tampa salte do tacho com Sniper Americano (seis nomeações para as estatuetas douradas), assinado pelo assumidamente republicano conservador Clint Eastwood e construído sob o ponto de vista da figura verídica de Chris Kyle (Bradley Cooper), o mais letal atirador norte-americano enviado ao Iraque, na sequência dos atentados de 11 de Setembro de 2001.

As motivações de Kyle não andam longe daquela expressão muito familiar ao ouvido luso, “tudo pela nação, nada contra a nação”. A coisa piora quando a mira de Kyle, qual salvador da pátria americana, nos dá do outro lado da barricada carniceiros de berbequim na mão com intenções não muito mais complexas do que o puro sadismo.

Não sendo propriamente subtil no seu posicionamento, Sniper Americano também não convence em verve sentimental ou reflexiva, caindo em simbolismos bacocos, como aquele em que um inusitado travelling lento segue uma bala dirigida ao melhor sniper iraquiano.