A demissão, que não terá sido aceite pelo Parlamento, segue-se ao fracasso de um acordo assinado na quarta-feira entre o regime e os Houthi, que tinham prometido retirar da cidade.
Entretanto, surgem também rumores sobre uma possível declaração de independência do Sul, que entre 1967 e até à reunificação do Iémen em 1990 foi uma república socialista pró-soviética com capital em Adém. Nesta cidade, um importante porto, as autoridades locais estarão a ponder a secessão face ao vazio de poder em Sanaa.
Os Houthi, que professam o zaidismo (uma corrente do islão xiita), batalham desde 2004 por maior autonomia da sua região no norte do país e por maior representação nas instituições nacionais, num conflito que já causou milhares de mortos. Apesar de estarem em peso em Sanaa desde Setembro, os rebldes intensificaram a sua presença nos últimos dias com a pilhagem de paióis das forças armadas, o ataque à residência do Presidente e o rapto de um dos seus conselheiros.
O Governo no poder, chefiado até aqui por Khaled Bahah, tinha sido formado em Novembro de 2014, precisamente no âmbito de um processo de paz entre xiitas e sunitas mediado pelas Nações Unidas. Hadi, o Presidente, é um importante aliado dos Estados Unidos na luta contra a al-Qaeda na Península Arábica (AQAP, na sigla inglesa), grupo terrorista sediado no país e que é agora conotado com as recentes acções violentas em França.
A al-Jazeera afirma que esta nova ofensiva Houthi poderá estar a decorrer com o apoio do antigo ditador iemenita Ali Abdullah Saleh, derrubado no âmbito da vaga revolucionária que ficou conhecida como Primavera Árabe. E estará também relacionada com um conflito regional mais vasto entre o xiismo, encabeçado pelo Irão, e o sunismo liderado pela Arábia Saudita.
Com cerca de 25 milhões de habitantes, o Iémen é considerado o país mais pobre do Médio Oriente, contando com uma produção petrolífera significativamente menor que a dos seus vizinhos. Fica estrategicamente situado no extremo sul da Península Arábica, e pelas suas águas passa boa parte do tráfego naval mundial. A crónica instabilidade daquela república dificulta o combate à pirataria, que tem ameaçado nos últimos anos o transporte de petróleo e de outras importantes mercadorias entre a Ásia e a Europa.
pedro.guerreiro@sol.pt