PS contra conto da “carochinha” de Passos

O líder parlamentar do PS afirmou hoje que o primeiro-ministro apresenta uma versão da história recente orçamental que é um conto da “carochinha”, enquanto Passos Coelho contrapôs que a “lição moral” socialista é acrescentar dívida à dívida.

PS contra conto da “carochinha” de Passos

Esta troca de críticas entre Ferro Rodrigues e Pedro Passos Coelho ocorreu no debate quinzenal, na Assembleia da República, depois de o primeiro-ministro ter assumido "um moderado optimismo" face ao futuro do país.

"Pareceu-me das suas palavras verificar uma incontida euforia, que é absolutamente despropositada, porque revela irrealismo. Esquece-se da 'overdose' fiscal sobre os portugueses em 2014, dos cortes ao investimento público e em prestações essenciais para os mais pobres e, por isso, trouxe-nos aqui um dos contos mais absurdos para crianças, trouxe-nos uma história da carochinha", advogou o presidente do Grupo Parlamentar do PS.

No contexto desta referência de Ferro Rodrigues ao facto de Pedro Passos Coelho ter esta semana classificado como "um conto para crianças" o programa económico e social do novo partido de Governo grego, o Syriza, o líder parlamentar do PS criticou também o primeiro-ministro português por alegadamente ter ignorado as mudanças ocorridas nas últimas semanas na Europa.

De acordo com Ferro Rodrigues, Passos Coelho passou ao lado das novas regras de "flexibilização" da contabilização do défice em consequência de investimentos estruturantes, da decisão do Banco Central Europeu (BCE) de injectar liquidez comprando dívida pública e, por último, dos resultados das eleições gregas.

Aqui, o líder da bancada socialista citou a ex-presidente do PSD Manuela Ferreira Leite, considerando que a "ortodoxia fanática financeira está a ser derrotada em todo o lado".

Num momento em que Passos já não dispunha de tempo, Ferro quis saber se o primeiro-ministro se colocará ao lado "dos falcões da austeridade, fazendo da Grécia uma vacina contra qualquer desvio á austeridade, ou se incentivará uma solução de compromisso" na União Europeia.

Na reacção, o primeiro-ministro recusou validade à interpretação feita pelo PS sobre as mais recentes decisões europeias e passou ao contra-ataque.

"Estamos esclarecidos. O PS entende que quem tem mais dívida deve endividar-se mais, quem tem mais desequilíbrios deve ter mais flexibilidade e quem precisa de ter mais dinheiro sendo devedor deve ter mais dinheiro. Essa é a lição moral socialista. Estamos esclarecidos sobre essa maneira de pensar", respondeu.

Passos Coelho rejeitou também que em 2014 tenha existido 'overdose' fiscal, disse ter dados objectivos que indicam que a consolidação orçamental no ano passado baseou-se em dois terços numa redução da despesa e, com ironia, referiu que "um sucesso para Ferro Rodrigues seria um novo resgate".

No que respeita às consequências das eleições gregas, o primeiro-ministro apontou que os socialistas quase desapareceram do mapa da política grega e que venceu um partido "da extrema-esquerda, equivalente ao nosso Bloco de Esquerda".

Passos Coelho elogiou o esforço feito pelos gregos nos últimos cinco anos, vincou que Portugal foi um dos países que contribuiu financeiramente para a Grécia e deixou um aviso: "É importante que a Grécia respeite os seus compromissos, cumpra as regras da União Europeia (como toda a gente) e possa ter sucesso".

"É isso que desejo sinceramente", frisou.

Lusa/SOL