O verdadeiro relações públicas

As pessoas confundem-se. Confundem-se muito, aliás. Hoje em dia existem tantos cursos em Portugal que alguns deles só servem para formar profissionais de outras profissões. Profissões, então, nem se fala e cargos também. As pessoas gostam de rótulos e de nomes pomposos. Donos de start-ups já se designam CEOs, antigas secretárias são ‘assistentes de direcção’…

A noite não foge à regra. Aqui, onde os sonhos se confundem com a realidade, todos tentamos passar uma imagem superior àquela que nos corresponde de facto. Ilusão de propósitos bem definidos: contornar verdades usando a ferramenta do mistério, da transcendência, não de conteúdos mas de materialismos que achamos num determinado momento serem razão suficiente para adulterarmos as evidências. Não vai longe a postura do engano.

Acaba sempre por sucumbir.

É o caso dos promotores que se auto-intitulam 'relações públicas' e, como se diz, “uma mentira mil vezes repetida passa a verdade”. Mau para o negócio, péssimo para quem defende uma cultura de proximidade, de serviço apurado e de premiação de quem paga, do cliente que responde afirmativamente ao investimento do dono.

Essa profissão específica encontra-se em vias de extinção precisamente porque se confundiram (propositadamente) conceitos e atropelaram-se razões identificadas. É também por isso que por vezes não obtemos resposta quando nos perguntamos o que se passa afinal com a noite, que já não tem o encanto de antigamente.

O promotor é a pessoa que promove (neste caso um determinado evento), comunica para as massas, passa a mensagem, distribui a palavra para que esta seja do conhecimento público, para que mais tenham informação sobre o que se vai passar nesse determinado acontecimento. O relações públicas é quem gere os relacionamentos dentro do próprio evento, recebe as pessoas, identifica um espaço com a sua personalidade, o seu carácter, e convence o público a frequentá-lo pela imagem que reflecte no espelho.

Cada vez mais faltam estes últimos apenas porque os primeiros quiseram o tal nome mais pomposo, a distinção suprema de quem nos avalia pelas aparências. Todos nós gostamos de ser bem recebidos em qualquer espaço. Faz falta quem atente aos pormenores, quem prime pela diferença, a política do sorriso, do reconhecimento pelo nome, da palavra de boas-vindas, o convite personalizado, a mensagem de agradecimento. Fazem falta os verdadeiros relações públicas.