Granadeiro tem uma versão diferente de Zeinal Bava sobre a data em que a tesouraria da PT Portugal foi integrada na PT SGPS.
De acordo com Zeinal Bava, que presidia à PT Portugal na sequência da fusão com a Oi, a gestão da tesouraria da PT SGPS só foi assumida a 5 de Maio. No entendimento de Henrique Granadeiro, tal aconteceu a 10 de Abril de 2014.
Estas datas são fundamentais para apurar responsabilidades na renovação de investimentos da PT na Rioforte, que acabou por entrar em incumprimento em Julho de 2014 e marcou o início da turbulência da operadora de telecomunicações.
Granadeiro assume apenas a responsabilidade por 200 milhões de euros, ou seja, cerca de um quarto do investimento total. Na prática, a aplicação de 897 milhões foi divida em várias operações.
Ao assumir apenas a responsabilidade por 200 milhões de euros, Granadeiro está a transferir para Zeinal Bava o ónus do restante montante da aplicação (697 milhões), uma vez que nessa altura já a PT Portugal era responsável pela tesouraria da PT SGPS.
“Na minha convicção, essa decisão foi tomada no âmbito da PT Portugal [presidida por Zeinal Bava] e pelo CFO, o Eng. Luís Pacheco de Melo, que era o mesmo da PT SGPS”, repete.
“Não sei como é que se parte ao meio o Eng. Luís Pacheco de Melo ou qualquer outra pessoa”, ironiza.
“Os 200 milhões foram aplicados pela PT SGPS e os restantes no âmbito da PT Portugal. A minha responsabilidade já assumi. Em relação ao valor restante, há interpretações de outras pessoas que acham que a tesouraria da PT SGPS ainda não tinha passado para a PT Portugal”, diz sem referir o nome de Zeinal Bava.
Ao longo da audição, Granadeiro já mencionou, recorde-se, por diversas vezes que a dualidade na gestão/liderança da PT criou alguma confusão e até “prejuízos” para os accionistas.
Grandeiro questionou ainda a gestão de Zeinal Bava na Oi, considerando que não foi a aplicação na Rioforte a causar a perda de valor da brasileira, mas a gestão operacional [a cargo de Zeinal].
O ex-responsável também atribui responsabilidades aos administradores do BES – Morais Pires e Joaquim Goes – por omitirem informação sobre as contas do Grupo Espírito Santo.
A partir de 25 de Março, data em que se estabelece a gestão integrada da tesouraria da PT SGPS para a PT Portugal, realiza-se a transferência da maior parte dos contratos. Ou seja, as operações de financiamento à PT SGPS passaram, na sua posição contratual, para a PT Portugal no âmbito da gestão integrada de tesouraria a partir de10 de Abril e algumas dessas operações até antes, explica.
Os anexos das actas das reuniões do ‘board’ mostram detalhadamente quais são as operações transferidas e em que data, sustenta.
Granadeiro convicto que Bava sabia do investimento na Rioforte
Na reunião do conselho de administração da PT SGPS, realizada a 10 de Julho, muitos administradores da operadora instaram de uma “forma muito pressionante” o CFO Pacheco de Melo para dizer ao conselho de administração se o Eng. Zeinal Bava tinha conhecimento.
Granadeiro leu um extracto da acta dessa reunião para recordar a resposta do CFO da operadora. Pacheco de Melo afirmou que esses investimentos no GES eram uma prática recorrente e que as pessoas que lá estiveram, e que tinham saído há pouco, sabiam.
Adicionalmente, o CFO recordou, ainda em respostas aos administradores, um roadshow realizado com a presença do presidente da Oi. No entanto, Pacheco de Melo: “Se as pessoas sabiam se era na Rioforte, afirmou que sinceramente não sabia se lembrava. Antes da passagem dos activos para a Oi tinha dúvidas. Após a passagem dos activos, só não sabe quem não quer”.
Perante esta resposta do CFO, Granadeiro assume: “Não tenho nenhuma dúvida sobre como interpretar esta questão. A resposta é um Sim. Sabia o presidente da Oi e o CFO”.
O CFO da PT Pacheco de Melo será ouvido amanhã pelos deputados.
Em resposta ao deputado Carlos Abreu Amorim, Granadeiro reconhece que a religião não é um factor de aproximação entre ele próprio e Zeinal Bava, embora reconheça que possam existir outros. “Seguramente não é o factor religioso, porque eu sou um cristão e ele é um muçulmano", afirmou, recolhendo vários sorrisos dos deputados.