Como é que apanhou aquelas declarações do secretário-geral do PS nas celebrações do novo ano chinês? Tem algum amigo chinês?
Por acaso tenho vários, mas não é o caso (risos). Tive uma dica e pedi para me enviarem o vídeo. Tive curiosidade de ver as declarações de António Costa, principalmente por serem perante a comunidade chinesa residente em Portugal, que o ouve dizer todos os dias na televisão que a estratégia do Governo era errada. E ali ele diz o contrário.
Foi um dos episódios mais eficazes de oposição da maioria a Costa?
Porventura porque ajudou a revelar António Costa como ele é: uma pessoa que discursa dizendo aquilo que quem está à sua frente quer ouvir.
Esperava o impacto que teve?
Estranhava era que uma declaração destas ainda não tivesse tido a repercussão óbvia. Costa foi beneficiando de uma certa presunção de invencibilidade. Este episódio demonstra que não está preparado para governar o país e nessa medida até é um risco. O que ele acaba por dizer é que o país está melhor em 2015 governado pelo PSD e pelo CDS do que esteve em 2011 governado por todas as pessoas que tem hoje à sua volta no PS.
Costa já perdeu o élan com que chegou à liderança do PS?
Costa é eleito candidato a primeiro-ministro pelo PS sem ter apresentado uma única ideia que indicasse o que poderia vir a ser a sua governação. Só há a evidência ostensiva de que quem hoje manda no PS com António Costa é o PS de 2011, num retorno perigoso a um passado felizmente já distante e que hoje nos distingue da Grécia. Costa não faz sequer o papel de oposição.
Passos Coelho disse que se vai bater por um maioria absoluta. É realista?
É uma declaração normal de quem vai a votos e tem ambição.
Mas acredita que é possível?
Tenho a certeza de que este PS pode e merece ser vencido e que esta maioria está muito melhor preparada para governar o país do que está o PS.
Tem noção de que tomaram medidas muito duras e que terão muitas dificuldades nas eleições?
Não tenho dúvidas de que PSD e CDS serão avaliados pelo que fizeram em conjunto na governação. Há uma diferença muito grande: o PS trouxe a troika e impôs o memorando, esta maioria livrou o país da troika. Temos crescimento económico, o desemprego baixou consideravelmente e são tudo indicadores de que o país está hoje muito melhor do que estava em 2011.
Faz sentido admitir o Bloco Central neste momento?
Se a coligação com o PS não fez sentido há quatro anos quando os três partidos subscreveram o memorando de entendimento que o PS negociou, que sentido faria agora depois de dois desses partidos sozinhos, com muitas dificuldades e sem o apoio do PS, terem conseguido executar com sucesso o memorando e concluído o ciclo de intervenção da troika? Nenhum. De qualquer forma, António Costa já se encarregou de dar a resposta «ou nós ou eles».
Exclui portanto?
Sim. O assunto está encerrado. E no que me diz respeito ainda bem!
A forma como o primeiro-ministro disse que «não fecha porta nenhuma» nas próximas eleições não foi desagradável para o CDS?
Se há interpretação que faço é que o parceiro preferencial do primeiro-ministro é o CDS. Isso fica claro.
Teme os efeitos do caso das dívidas do primeiro-ministro à Segurança Social no resultado eleitoral?
O que é extraordinário é que os mesmos que se mobilizam em peregrinações a Évora exigindo a libertação de Sócrates, sem conhecer o processo, sejam os mesmos que agora com a mesma intensidade levantam a voz para exigir explicações do primeiro-ministro em relação a pagamentos à Segurança Social, ao que parece prescritos, mas que até já foram feitos.
Os resultados de uma sondagem recente mostram que PSD e CDS ganham mais em ir juntos. Não é mais um sinal de que faz sentido definir a renovação do acordo o quanto antes?
Neste momento a prioridade são as eleições na Madeira, onde o CDS vai concorrer sozinho e acredito que poderá obter um bom resultado. As coligações serão tratadas no seu devido tempo.
Faz sentido que aqueles que foram ministros deste Governo no CDS encabecem listas conjuntas ao Parlamento?
Faz sentido que, independentemente dos cenários, muitos dos actuais protagonistas do CDS no Governo e no Parlamento sejam tidos em consideração nas listas para as próximas eleições.
Os discursos divergentes do PSD e do CDS a propósito das declarações de Juncker sobre a intervenção em Portugal foram mais uma falha de coordenação?
Não. Foram uma expressão de opinião própria de dois partidos que são diferentes. O CDS recordou que o Juncker disse não é novo e já tinha sido dito por nós. Paulo Portas foi o primeiro a falar de vexame no discurso político.
Os dois discursos são uma tendência que vai manter-se na campanha para as legislativas?
Não. O CDS é um partido institucionalista e tem a exacta noção do seu lugar nesta coligação e, no Governo, nunca um ministro ou um secretário de Estado exorbitou nas declarações o âmbito das suas próprias funções. Os partidos são diferentes e o que interessa é que concordem e se concertem no essencial. E isso tem acontecido, salvo raras excepções.
Quais vão ser as grandes bandeiras do CDS na campanha?
As de sempre: a Agricultura, a fiscalidade, a protecção social, a política de defesa, as questões relacionadas com a autoridade e as forças de segurança…
O que mudará para o CDS se tiver de ir sozinho a eleições?
O CDS nunca temeu ir a votos por si. Tem todas as razões para se orgulhar do que fez no Governo nos últimos quatro anos. Se tiver de concorrer sozinho, concorrerá.
Se o CDS perder as eleições, acompanhado ou sozinho, Paulo Portas deve deixar a liderança?
Independentemente do que suceda nas próximas eleições Portas deve continuar à frente do partido.
Gostaria de ter uma mulher à frente do partido? Assunção Cristas, que tem sido bem sucedida?
Neste momento não estou preparado nem para ter uma mulher nem para ter um homem que não seja Paulo Portas à frente do CDS. Há muitos casos de sucesso no CDS, felizmente. Assunção Cristas será um deles. Mota Soares João Almeida, Telmo Correia, Nuno Magalhães também.
E estaria disponível para esse desafio?
Toda a gente tem a legitimidade de um dia ambicionar suceder a Paulo Portas mas eu concentro-me na sua manutenção à frente do partido.
As eleições presidenciais devem fazer parte de um acordo PSD/CDS?
Pode fazer sentido em termos de perfil, não necessariamente de nomes.
Rui Rio continua a ser o melhor candidato?
Rui Rio é muito mais do que um activo do PSD, é um activo para o país. Querendo, tem um tremendo futuro político pela frente.
Paulo Portas seria uma solução para Belém, caso não integre o próximo Governo?
O que disse de Rui Rio vale para Paulo Portas. Mas no que dependesse de mim não faria dele um candidato à Presidência porque o quero ver à frente do CDS (risos).
O desfecho das negociações entre a Grécia e o Eurogrupo mostram que não havia alternativa ao rumo que Portugal seguiu?
No momento em que Portugal não se conseguia financiar nos mercados e não teve outra alternativa senão recorrer a credores parece-me que não havia alternativa. Em relação ao futuro espero que outra coisa aconteça.
A ministra Maria Luís fez bem em aparecer tão colada à Alemanha?
Mas por que é que a ministra não há-de aparecer colada à Alemanha? A Alemanha por acaso é um país inimigo ou adversário de Portugal?! Não, não é. É no âmbito da UE um país relevantíssimo com enorme poder de decisão. Nessa medida o que é mais inteligente? É ser parceiro da Alemanha ou adversário? Parece-me que parceiro. E nessa diferença reflecte-se o que é a Grécia e o que é Portugal.
Como tem sido ser colega de Marinho Pinto em Bruxelas?
Vejo-o muito pouco. Aliás, o próprio há dias perguntando-se-lhe o que já tinha feito em Bruxelas respondeu ‘absolutamente nada’.
O que acha de o PSD e o CDS poderem coligar-se com Marinho para formar maioria, se for necessário?
Já ouvi Marinho Pinto dizer que o CDS seria um dos únicos dos partidos com quem não se coligaria. Acrescento eu, felizmente! Mal estaríamos se o CDS alguma vez tivesse de se coligar com o Marinho Pinto.
Tem acompanhado a Comissão de Inquérito do BES?
Sim, muitas vezes.
Viu a audição a Zeinal Bava? O que achou?
Um absurdo. Quase que me transtorna perceber que à frente de empresas tão relevantes com um reconhecimento internacional possam ter estado pessoas que se permitem prestar aquelas declarações. Sempre com um sorriso nos lábios, curiosamente, apesar do drama e do significado que teve na vida de muitas pessoas.
sofia.rainho@sol.pt