Um infanticídio durante umas férias invernais; duas crianças a observar os ricos; um morto, à janela de uma carruagem de comboio; o corpo de uma irmã anoréctica; as unhas da amante do pai; a desolação de palestras literárias em nenhures; alguns passos sobre vidro; as relações femininas no trabalho ou o choque entre culturas; uma violação narrada num quarto de pânico… Hilary Mantel, única vencedora de dois Man Booker Prize (Wolf Hall e Livro Negro), tem uma capacidade técnica notável e os seus contos, dignos de estudo minucioso, provocam um desconforto no leitor só comparável aos de E. A. Poe. Terríveis e venenosos na composição de personagens e ambientes, maravilhosos na forma sucinta e na leveza da linguagem.
«Tudo o que é humano se ri», diz a dona da casa onde se infiltra o atirador terrorista, que lhe responde: «Jesus chorou». Conversam os dois, com vista para as traseiras do hospital, na expectativa da saída de Thatcher. Será apenas um dos muitos encontros e diálogos improváveis contidos nesta antologia. Familiaridade e estranheza, riso e medo são o território predilecto de uma armadilha chamada Mantel: a não perder.
O Assassinato de Margaret Thatcher
Hilary Mantel Jacarandá Editora
231 págs., 14.90 euros