Costa aprendeu que não deve ‘falar em mandarim’

A sabedoria popular diz que se aprende com os erros e o líder do PS tirou uma lição da polémica com o discurso que fez na celebração do Ano Novo chinês: não falar mandarim. E radicalizou o discurso, comparando o momento que se vive com o pós 25 de Abril, tentando apaziguar as querelas internas…

Costa aprendeu que não deve ‘falar em mandarim’

“Fico muito satisfeito que a minha mensagem tenha sido percebida. É a vantagem de ter optado por falar em português e ter aprendido que quando uma pessoa se quer fazer entender nunca deve falar em mandarim”, brincou António Costa, num jantar com deputados, no final do primeiro dia das jornadas parlamentares do PS, que decorreram hoje e encerram amanhã em Vila Nova de Gaia. 

As suas declarações perante uma plateia de empresários chineses onde admitiu que o país estava “bastante diferente”, para melhor, do que há quatro anos, altura em que o ex-primeiro-ministro José Sócrates pediu ajuda externa e deixou o Governo, fizeram rejubilar a direita e obrigaram Costa a vir esclarecer a sua posição. 

Costa regressou ao passado para comparar 1975, um momento em que o PS, com Mário Soares, teve um papel decisivo para “afirmar os valores da liberdade e democracia e para travar as tentações totalitárias e resistir às derivas radicais” com o que se vive agora, em que uma vez mais há perigo de radicalismos. “Temos que travar este radicalismo, agora de sinal contrário, mas que está mais uma vez a pôr em causa aquilo que são os valores fundamentais da nossa vida em sociedade. Não está a liberdade e a democracia em causa, é verdade, mas todos os dias vimos, ouvimos e deparamo-nos com novas ofensas a esse valor fundamental que é a dignidade da pessoa humana”, defendeu o líder socialista. 

Num discurso já em modo de campanha eleitoral, o líder socialista quis apaziguar as querelas internas, até porque o objectivo é a maioria absoluta, e pegou no exemplo de Matosinhos, onde decorre o jantar, para mobilizar os socialistas. Guilherme Pinto, que ganhou a Câmara nas últimas autárquicas, concorreu contra o candidato oficial do partido, António Parada e ambos estão presentes no jantar. “Sei como as coisas são, não é fácil, mas o gesto de estarmos juntos é absolutamente essencial”, afirmou o líder do PS. Costa lembrou que faz 10 anos que o PS ganhou a primeira absoluta, 20 que Guterres chegou venceu as primeiras legislativas e 40 que o PS teve a primeira vitória eleitoral da democracia. “Estamos todos na mesma sala, estamos todos juntos nesta batalha que vai ser travada”.

Depois de, no início das jornadas, Costa ter saído em defesa do líder parlamentar, Ferro Rodrigues, que tem sofrido criticas internas, tal como o SOL noticiou, o líder do PS reforçou novamente essa confiança, enaltecendo o currículo de Ferro, nomeadamente o facto de ter sido o “pai do Rendimento Mínimo Garantido”. 

As dívidas de Passos à Segurança Social não foram mencionadas, mas Costa deu uma bicada: “Esta maioria que é tão indulgente com erros próprios é implacável com o direito à habitação das famílias e não hesita que até a morada da família deva ser retirada às pessoas porque a cegueira e insensibilidade social é total”, acusou. 

sonia.cerdeira@sol.pt