Cavaco, Obiang e Ramos-Horta

Sejamos sérios. Cavaco Silva não estava a querer ‘designar o seu sucessor em Belém’ (como se apressaram a dizer os seus críticos mais básicos) – façanha que não está, aliás, ao alcance dos seus circunscritos poderes e competências. Vejamos o que afirma Cavaco a esse respeito no prefácio dos Roteiros IX . “Os interesses de…

Ora, numa interpretação desprovida de segundas e malévolas leituras, isto pode ser a constatação – e a confissão genuína – feita por Cavaco Silva das enormes exigências e dificuldades que sentiu na Presidência num mundo cada vez mais globalizado, com uma vasta e intensa diplomacia económica e onde os centros de decisão se situam cada vez menos em Belém ou em S. Bento, pois estão lá fora (em Bruxelas, em Berlim, em Frankfurt, em Washington ou em Pequim). Cavaco terá percebido que a função presidencial impõe capacidade de influência e uma lista de contactos e de relações pessoais ao mais alto nível com líderes internacionais. E fez questão de transmitir essa ilação de experiência feita.

Numa segunda leitura, mais especulativa, poderá concluir-se que Cavaco quereria ver em Belém, a partir de 2016, alguém com um óptimo currículo internacional como o seu delfim Durão Barroso (ou, vá lá, António Guterres). Mas essa decisão não passa, naturalmente, por ele. Pensar-se que pode nomear um sucessor é um óbvio exagero. Que pode levar alguns a enfiarem barretes evitáveis.

Já no que respeita à entrada da Guiné-Equatorial e do ditador Obiang na CPLP, Cavaco distorce o retrato ao colocar a tónica num “grande empenho das autoridades timorenses” para evitar “o fracasso da Cimeira de Díli”. Ramos-Horta veio repor a verdade dos factos ao recordar que “o lóbi forte pela admissão da Guiné-Equatorial foi sempre de Angola e Brasil”, não de Timor.

Portugal e Cavaco Silva travaram a entrada de Obiang na CPLP nas cimeiras de 2010 e 2012, mas resignaram-se e renderam-se às evidências em 2014. Essa é que é essa.