Quem decide as eleições?

Em democracia o vencedor das eleições nunca está decidido antes da contagem dos votos. Esta é uma verdade que incomoda os detentores do poder em regimes não democráticos. Porém, em democracia é assim mesmo.

Antes das eleições todos os intervenientes têm ampla liberdade para tentar influenciar o voto do cidadão, mas o resultado final, uma vez apurado, não pode ser alterado. No final, vencedores e vencidos reconhecem os mesmos resultados, mesmo que cada um os possa interpretar como entender. Assim todos acabam por ganhar, ficando assegurada a transferência pacífica do poder político. O vencedor vê a vitória reconhecida pelo adversário e este vê reconhecido o direito de desafiar o primeiro num futuro ato eleitoral. Por isso, em democracia, é o povo enquanto conjunto de cidadãos eleitores que decida as eleições.

Mas a questão sobre quem decide as eleições pode ser vista de forma mais restrita, se a virmos como uma pergunta sobre quem decide o vencedor das eleições. Nesta acessão ganharam relevo estudos que baseiam a resposta a essa questão na constituição do eleitorado. As mulheres são a maioria do eleitorado e, assim sendo, são as mulheres quem decide as eleições. Após a última eleição de Barak Obama, em 2012, esta afirmação ganhou muitos adeptos, sobretudo devido ao realce dado ao gender gap (20%), o maior de todas as eleições americanas. Vistas as coisas nesta óptica, as mulheres decidiram a eleição do homem mais poderoso do planeta.

Sem querer apoucar o mérito desta abordagem, parece-me ser bem mais interessante tentar perceber se a maioria do voto feminino se deve predominantemente à diferença de género. Ou seja, tomando o exemplo americano, a maioria das mulheres terá votado em Barak Obama por serem mulheres ou por outras razões? Na realidade, a análise dos resultados mostra que existem outros factores que têm um peso significativo na intensão de voto, como a raça (a maioria das eleitoras brancas não votou Obama), o estado civil (a maioria das mulheres casadas não votou Obama) ou a faixa etária (idosas tendem a não votar Obama). Mas existem factores, como as políticas de emprego e de saúde, que revelam particular importância para o voto das mulheres. Em países em que as mulheres constituem uma parte significativa da população activa, como é também o caso de Portugal, não é de estranhar que o voto feminino valorize as políticas de emprego.

Decisivo ou não, o voto das mulheres tem um peso inquestionável, quanto mais não seja por estas constituírem a maioria do eleitorado. Assim sendo, e dado o peso das mulheres na economia, será de esperar que os candidatos às próximas eleições enunciem e expliquem as medidas que pretendem adoptar para melhorar as condições de trabalho e de empregabilidade das suas potenciais eleitoras. Fica a sugestão.

*Professora na Universidade Lusófona