Madeira acelera campanha no PS

O homem é o homem e a sua circunstância – e foram várias as que fizeram António Costa acelerar a saída da Câmara de Lisboa. Desde as sondagens pouco animadoras à exposição aos problemas na autarquia, a dificuldade na compatibilização de funções e, por fim, a derrota na Madeira. O dia do anúncio apanhou quase…

Madeira acelera campanha no PS

António Costa oficializou ontem a renúncia ao mandato na Câmara de Lisboa, para se concentrar “com o mesmo espírito de serviço, energia e determinação a servir agora Portugal e os portugueses”. E se até agora o partido era gerido em regime part-time, as iniciativas vão multiplicar-se.

A mais importante é já a 19 de Abril, no Porto, para comemorar o aniversário do PS: a Festa da Democracia, nos jardins do Palácio de Cristal, com música e animação durante toda a tarde. No recinto vão estar representadas as regiões do país e haverá uma homenagem aos deputados socialistas da Assembleia Constituinte. Costa discursa às 17h.

A 23 de Abril, será organizado um jantar-comício em Grândola, para assinalar o 25 de Abril, e até ao final de Maio o secretário-geral vai desdobrar-se em plenários  com militantes  e simpatizantes por todos os distritos, aproveitando para fazer visitas a empresas locais. Na próxima semana, visitará a região Oeste e Setúbal, passando a seguir para o Norte do país. O cenário macro-económico vai ser apresentado nos próximos dias e o programa a 6 de Junho.

Das sondagens à Madeira

A ausência de descolagem nas sondagens com a maioria à espreita foi só parte do problema. O palco na Câmara, que podia permitir a Costa mostrar trabalho, começou antes a causar-lhe dores de cabeça: desde as cheias ao aumento do preço da água, às restrições na circulação de carros na baixa lisboeta, passando pela taxa turística e a isenção ao Benfica. A polémica com o discurso das ‘chinesices’, como ficou conhecido, encheu o copo.  No último mês, Costa – que até então geria o partido ao final da tarde e ao fim-de-semana – intensificou a agenda de secretário-geral, sentindo mais dificuldades em compatibilizar as duas funções. “Percebeu que tinha que sair para fazer campanha”, diz ao SOL um dirigente socialista.

 Os conselhos para que saísse rapidamente da autarquia eram feitos amiúde, mas Costa nunca se comprometeu com uma data. Apesar de no passado sábado o Expresso ter noticiado que o anúncio da renúncia poderia ser a 19 de Abril, o pouco que era veiculado apontava para que a saída fosse mais próxima do Verão. A derrota na Madeira, apesar de a direcção do PS desvalorizar e recusar uma “leitura nacional”, parece ter acelerado os timings.

Membros da direcção do PS e próximos de Costa afirmam ao SOL não terem ficado surpreendidos com a derrota, mas com a sua dimensão. E apontam o dedo ao candidato Victor Freitas, escolhido no tempo de António José Seguro, que recusou fazer primárias para a escolha do candidato e coligar-se com o CDS.

“É uma derrota pesada. O PS/Madeira assumiu isso, a estratégia não correu bem”, afirma o histórico socialista Vera Jardim. O ex-ministro de Sócrates  Augusto Santos Silva concorda e afirma que a “direcção nacional não pode ser envolvida em nenhum dos vários erros cometidos”, frisando que desde há quatro anos que o PS na região autónoma “perdeu a condição de protagonista da oposição”. 

As eleições na Madeira serviram também para abrir as feridas com a oposição interna. Seguristas e o secretário nacional Porfírio Silva chegaram a trocar acusações públicas via Facebook.

sonia.cerdeira@sol.pt

*com Manuel A. Magalhães