Greve deixa 350 mil em terra

A greve de dez dias convocada pelos pilotos da TAP e da PGA poderá afectar 350 mil passageiros. Até quarta-feira, havia 300 mil reservas para o período de 1 a 10 de Maio, mas a companhia previa que o número de passageiros ainda subisse nas viagens de médio curso, indicou ao SOL fonte oficial da…

Greve deixa 350 mil em terra

Por enquanto, a transportadora não consegue contabilizar quantos cancelamentos já houve.  Mas “o impacto começou a partir do momento em que a comunicação social disse que ia haver uma assembleia cujo objectivo era decretar greve [a 8 de Abril]”, assume a mesma fonte.

No sector turístico, a descrição é a mesma. “É uma greve cirúrgica, que começa numa sexta-feira que é feriado e com muitos city breaks [estadias curtas]”, reflecte o presidente da Confederação do Turismo Português (CTP), Francisco Calheiros. “Antes da assembleia-geral dos pilotos [ontem e quarta-feira] já estávamos com cancelamentos”, comenta, classificando a paralisação como “um tsunami”.

Impacto nas contas

Os agentes de viagens também já estão a acomodar os clientes noutras companhias e noutras datas. Até porque agora há mais alternativas do que na greve que ameaçou parar a TAP em Dezembro, quando os aviões estavam cheios por ser Natal e Ano Novo.

“O esvaziamento das reservas para estes dez dias será agora mais rápido”, confirma o presidente da Associação das Agências de Viagens e Turismo, Pedro Costa Ferreira.

Por agora, a empresa liderada por Fernando Pinto antecipa que as perdas superem os 70 milhões de euros. E que o impacto nas contas seja “brutal”, agravando a débil situação financeira da TAP.

Em 2014, a companhia aérea teve prejuízos de 46 milhões de euros. Este desempenho quebrou cinco anos de lucros e foi justificado pelo presidente com as dificuldades operacionais do Verão passado e com os 22 dias de greves (realizadas ou anunciadas mas não concretizadas). Haverá “um desespero completo de tesouraria”, como afirmou Cantiga Esteves, que preside a comissão de acompanhamento da privatização.

No turismo português – que está muito dependente do transporte aéreo – multiplicam-se os receios de que a companhia não resista a dez dias com os aviões em terra. “A concretizar-se, a empresa não aguenta. É uma péssima decisão para a companhia e para quem lá trabalha, um tiro no pé”, analisa Francisco Calheiros.

“Se resistir, fica muito mais frágil e mais barata na privatização. A quem é que isto interessa? Com certeza não é aos contribuintes portugueses nem aos trabalhadores da TAP”, questiona, por sua vez, Pedro Costa Ferreira. “Se não resistir, então uma bomba atómica foi colocada no mercado e no sector turístico”, continua.

Privatização ameaçada

A greve poderá também reflectir-se no sucesso da privatização. Acontece perto de 15 de Maio, o limite estabelecido pelo Governo para os candidatos à compra de  61% do grupo entregarem as propostas vinculativas.

Depois de alcançado o acordo com nove sindicatos da TAP – entre os quais o dos pilotos – para travar a greve do final do ano, o secretário de Estado dos Transportes frisou que a paz social trazia “valor estratégico financeiro e patrimonial para o processo de privatização”. Porém, esse ambiente está agora em causa.

E não se sabe que reacção provocará o protesto nos potenciais  investidores. Esta semana ficou a saber-se que a Globalia estará fora da corrida (ver caixa).

O que está em causa

Na base do braço-de-ferro entre o sindicato e a companhia pública está sobretudo a exigência dos pilotos quanto a algumas alíneas do acordo de empresa – como a devolução de diuturnidades suspensas desde 2011 – que a TAP garante estar a cumprir. E a atribuição de 10% a 20% do capital aos pilotos na privatização, com base numa promessa de 1999. Contudo, o actual executivo já rejeitou essa pretensão, sustentado num parecer da Procuradoria-Geral da República.

Há margem negocial?

Daí que o consenso possa ser difícil. No comunicado divulgado após a assembleia que reuniu 436 dos cerca de 900 pilotos da TAP, o sindicato indica “a disponibilidade para desconvocar a greve no exacto momento em que sejam asseguradas de forma inequívoca” as reivindicações.

Mas, do lado da companhia e do Executivo, não haverá margem para conversações. “Não estamos disponíveis para reabrir uma negociação que foi acordada e assinada por nove sindicatos, administração da TAP e Governo”, afirmou o ministro da Economia, na RTP, referindo-se ao entendimento alcançado em Dezembro.

ana.serafim@sol.pt