A chave da coligação pode estar em Bruxelas

Passadas as eleições da Madeira e com o mês de Abril a meio, cresce o nervosismo entre PSD e CDS em relação ao anúncio da renovação da coligação. Mas a negociação do Programa de Estabilidade (PE) pode ser a peça que faltava para que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas formalizem um acordo que já…

A chave da coligação pode estar em Bruxelas

“É um documento fundamental, que vincula os dois partidos e que terá as linhas orientadoras em termos de Finanças para os próximos quatro anos”, aponta um destacado dirigente social-democrata. Matérias como os impostos, as políticas de crescimento, o investimento, o corte na despesa e os estímulos ao emprego fazem parto do documento que foi ontem aprovado em Conselho de Ministros e terá de ser entregue em Bruxelas até ao final do mês de Abril.

Sem que PSD e CDS se acertassem nessas matérias, indicam algumas fontes sociais-democratas, não fazia sentido avançar para a discussão de um programa eleitoral conjunto e de listas para as legislativas. “Primeiro vamos ter de nos entender sobre o Programa de Estabilidade. Isso é fundamental”, sublinha um vice-presidente do PSD, justificando assim a indefinição que ainda paira sobre o tema da coligação.

Entendimento prévio

Para fechar o PE, foi preciso um entendimento entre PSD e CDS sobre matérias como a sobretaxa, a TSU (Taxa Social Única), o IRC e a devolução dos cortes salariais. E as duas grandes novidades do documento parecem ir ao encontro das ideias defendidas pelos centristas. A redução gradual da sobretaxa, deixando cair para já a ideia de descida da TSU são precisamente dois pontos de honrapara o partido de Paulo Portas.

Esta semana, o CDS tinha, aliás, voltado a frisar a importância de eliminar a sobretaxa “de forma gradual”, afastando a descida da TSU das medidas prioritárias para os centristas. “O que é prioritário para o CDS é valorizar e ter como prioridade os factores de crescimento económico”, disse a deputada Cecília Meireles à saída da reunião com Maria Luís Albuquerque sobre o Programa Nacional de Reformas e o PE que acabariam por reflectir estas preocupações.

Coligação só depois das eleições?

Esta terça-feira, no Conselho Nacional do PSD, Passos Coelho manteve o tabu sobre o acordo com os centristas, afirmando que “este não é o momento certo” para um anúncio de coligação. 

A afirmação do líder social-democrata deu origem a todas as especulações, levando alguns – entusiasmados com sondagens internas que mostram o PSD a ganhar sozinho – a anteverem a possibilidade de não haver acordo pré-eleitoral. 

“A coligação pode ser antes ou depois das eleições”, diz ao SOL outro vice-presidente do PSD, que leu nas palavras de Passos a intenção de atrasar ao máximo a decisão sobre a coligação para ver como evoluem as sondagens. “Ainda não estamos na posse de toda a informação. O objectivo mais importante é ter uma maioria para impedir que o PS volte ao Governo. Se conseguimos isso indo juntos ou separados é algo que ainda podemos decidir”, reforça o membro da direcção de Passos Coelho.

A ideia de que – desde que haja uma espécie de pacto de não agressão em campanha eleitoral -, é possível os dois partidos irem a votos separados para depois governarem juntos vai ganhando alguns adeptos no PSD, mas está longe de ser consensual. “Não faz sentido nenhum. Ninguém entenderia isso”, reage um deputado social-democrata. “Essa decisão está só na cabeça de Passos e este não é o ainda o tempo”, acrescenta um membro da direcção do partido. O tempo, esse, pode ser entre o final de Abril e o início de Maio, já com o PE entregue em Bruxelas.

margarida.davim@sol.pt