O PS assume no documento que a redução da sobretaxa, dos cortes salariais e da TSU dos trabalhadores estimula a actividade económica. Isto não quer dizer necessariamente que o PS tenha embarcado numa onda ideológica extrema. No documento, há vestígios de medidas à esquerda, mas em nenhum momento é posto em causa o número mágico de 3% de défice na próxima legislatura. Aqui não há Syriza, há respeitinho por Bruxelas.
Cavaco antecipou-se aos economistas do PS
O primeiro vestígio ideológico é visível na TSU. Em vez de privilegiarem a diminuição dos encargos das empresas com a Segurança Social, os socialistas preferem desonerar os descontos dos trabalhadores. Quanto a outra medida que muita gente já se apressou a rotular como ideológica – a introdução de um imposto sobre as heranças -, é no mínimo duvidoso apelidá-la como tal. Esta proposta foi feita no início desta legislatura por um ilustre social-democrata com provas dadas na ciência económica: Cavaco Silva. Na altura, o Presidente da República estranhou que o país debatesse formas de tributação extraordinária sem equacionar a reintrodução do imposto sucessório e sobre doações. Aliás, a proposta dos socialistas vai seguir o modelo do Reino Unido e na Irlanda – dois países com Governos de extrema-esquerda, como se sabe.
Novo sistema para "conciliar" trabalhadores
É no capítulo do mercado que as coisas se tornam menos claras. Os cidadãos europeus já se habituaram a algum grau de eufemismo nas ciências económicas aplicadas à política – os bancos já não vão à falência, são alvo de uma “medida de resolução”. Agora, os trabalhadores do país ficaram a saber que, se o PS acolher as propostas dos peritos, deixarão de ser despedidos, vão ser “conciliados”. Na proposta conhecida hoje, os economistas propõem um novo “sistema conciliatório” para as empresas poderem dispensar trabalhadores. Não é bem um despedimento, mas os motivos invocados pelos empregadores são os mesmos. Os trabalhadores “conciliados” terão direito a uma indemnização mais alta do que a actual, mas adivinha-se a contrapartida: o processo deverá ser mais rápido e menos burocrático. No fundo, os funcionários vão “conciliar-se” com os centros de emprego mais depressa e com menos chatices para as empresas.