A tua mãe não é assim tão fixe.

Dia da mãe. Milhares de posts nas redes sociais. A minha mãe é linda. A minha mãe é incrível. A minha mãe é a melhor do mundo. Tudo muito lindo, muito fofinho. Mas, se calhar, a tua mãe não é assim tão fixe.

 

Pergunta à tua mãe o que é que as pessoas acharam dela quando eras pequeno e andavas a correr pelo restaurante. Gritavas. Berravas. Eras impertinente e incomodavas toda a gente. A tua mãe ria-se e dizia que não eras mal-educado, eras apenas hiperactivo. Sim, claro que era isso. Não eras nada um aglomerado de mimo fabricado pelo embevecimento exagerado e anormal que a tua mãe tinha por ti. Nada.

 

Agora és daqueles que trata os empregados de mesa com despeito, que não pára nas passadeiras e que acha que o mundo todo lhe tem uma dívida eterna apenas pela sua glorificada existência. És um bocado uma merda. E a culpa também é da tua mãe.

 

E tu, que antes de te tornares o adulto execrável que és, quando foste gozado na escola por seres um badocha a quem todos chamavam o “leitão do 5º C”? A culpa foi da tua mãe. Ela é que todos os dias em casa te dava douradinhos com batatas fritas e ainda te dava dinheiro para comeres croissants com chocolate e coca-colas na escola. Foram anos que passaste a levar baile dos teus colegas, enquanto ela adorava as tuas bochechas tristemente obesas e te fazia estar cada vez mais próximo de um enfarte aos 35. Um amor perverso, no mínimo.

 

 

E tu, que andas no ginásio e tiras uma selfie ao espelho todos os dias. Todos. Às vezes nem te apetece ir ao ginásio mas precisas daquela selfie porque o défice de atenção que tiveste em criança está aí incrustado na epiderme, logo abaixo na tua lisa barriga ou dos teus peitorais definidos. Sim, a culpa também é da tua mãe que preferia ver novelas horas a fio sem sequer perguntar como tinha sido o dia.

 

 

E tu, que te chamas Henrique Henriques, Fernando Fernandes, Jéssica Sheila, Rúben Fábio e tanta outra atrocidade. A culpa já sabes de quem é. Mas também foi ela que ficou felicíssima quando acabaste o 9º ano com tudo 3 e dois 2. Foi à rasquinha. Mas ela ficava orgulhosa com estes teus feitos medíocres e isso fez com que agora a palavra “ambição” conste tanto no teu vocabulário como “kamehameha”. Só a dizes a brincar.

 

 

E tu, sim tu que ainda não nasceste. Ou que já cá andas mas nem consegues ler isto. Tu já estás em todo o lado. A tua mãe já te mostrou em radiografia, a tomar banho, a comer, a dar os primeiros passos, a usar roupas ridículas, já mostrou os teus desenhos, já contou como é a cor do teu ranho e já decidiu o que vais ser quando cresceres. Já toda a gente sabe a tua vida sem te terem perguntado se querias. E a culpa?

 

 

Mas nem sempre.

 

Há, de facto, mães incríveis. Se calhar, és só uma merda por culpa própria. Se calhar, a tua mãe fez tudo o que podia e não podia para criar um ser humano razoavelmente decente. E mesmo assim tu falhaste. Então não lhe desejes um dia feliz. Pede-lhe só desculpa.

 

Se ela fez um bom trabalho, não te esqueças disso o resto dos 364 dias.