Os donos da TAP

As empresas públicas de transportes tornaram-se um dos maiores cancros do país, embora sem surpresa que mereça essa designação. Se alguma coisa se estranha é que tenham resistido a quatro décadas de depredação e desmandos de todos os actores e decisores que as destruiram pouco a pouco.

Nestes 40 anos, foram usadas por sucessivos governos para fazer política e ganhar eleições, esbanjando lucros que nunca existiram e autorizando a contracção de dívidas que se tornaram insustentáveis. Nestes 40 anos, alimentaram levas de gestores que souberam tratar muito bem dos seus privilégios e mordomias, mas se limitavam a cumprir os ditames dos ministros da tutela, incluindo os que, em nome da paz social, consistiam em ceder a todo o tipo de reivindicações, das mais justas às mais absurdas, apresentadas pelos sindicatos. Nestes 40 anos, a acção conjugada de um poder político perdulário e fraco, porque a olhar sempre para as eleições seguintes, e de um sindicalismo egoísta e irresponsável, porque exorbitando, não raro, na reivindicação de regalias impensáveis noutros sectores, deu no desastre que se vê: sete empresas acumulam uma dívida de 20 mil milhões de euros que todos os anos aumenta muitos mais milhões.

Neste grupo não se encontra a TAP, que tem um estatuto especial, beneficia de administração estável e, apesar de uma dívida ainda perto dos mil milhões, tem vindo a reduzi-la e obtém, com frequência, resultados de exploração positivos. Mas acontece na transportadora aérea o mesmo que se verifica nas restantes empresas de transportes: embora pertencendo ao erário, encontram-se, de facto, nas mãos de elites profissionais com funções decisivas para o seu funcionamento e que abusam sistematicamente do poder que essa condição lhes confere.

Motoristas, maquinistas e pilotos, tanto os de navios como os de linha aérea, e as suas poderosas organizações de classe tornaram-se os verdadeiros donos dessas empresas. Tratam-nas como suas, põem e dispõem sobre o seu destino, com arrogância e desprezo cada vez maiores pelo accionista Estado e, sobretudo, pelos clientes que as sustentam. No caso da TAP, o comportamento dos pilotos é já, não apenas inaceitável, mas incompreensível para os cidadãos. E o que é incompreensível torna-se suspeito.

O simples anúncio de uma paralisação, ainda que posteriormente cancelada, produz efeitos tão devastadores para a companhia e para o país que a sua banalização sistemática se torna um crime económico, já sem relação alguma com o direito à greve. Objectivamente, o sindicato dos pilotos apresenta-se como carrasco da TAP num momento em que se joga a sua sobrevivência. Não pode esperar compreensão quando trai o interesse da empresa, bem como o do país, e favorece o de eventuais candidatos à privatização empenhados em baixar o preço.

É de amigo!

O cenário macro-económico para os próximos anos apresentado pelos 12 ‘apóstolos’ de António Costa foi o melhor que aconteceu ao PS desde que trocou de líder. Não só recebeu elogios inesperados, incluindo de sectores próximos da maioria, como o PSD se sentiu na necessidade de mudar rapidamente de táctica quanto à forma de lhe responder.

Primeiro, tentou arrasá-lo em duas penadas com a velha conversa do ‘regresso ao passado’; agora, pede resposta a 29 perguntas e uma certificação técnica dos dados que os 12 economistas trataram. Fez bem o PS ao reagir favoravelmente e fará ainda melhor aceitando o desafio proposto pelo PSD. Se o trabalho é sério, como garantem, nada melhor para o valorizar do que o interesse, ainda que maroto, do principal adversário político.

O 24 de Abril a 25

Inês de Medeiros (PS, do lado talvez cultural), Carlos Abreu Amorim (PSD, com trânsito pelo antigo PP, ora CDS) e Telmo Correia (CDS, um fiel de sempre) foram os três deputados que, à beira do 25 de Abril, quiseram recuperar o exame prévio em vigor a 24. Desautorizados, meteram a viola no saco mais cedo do que era suposto. Foi pena. Se lhes dessem um pouco mais de corda ficaríamos a saber até onde seriam capazes de levar o seu plano de condicionamento dos media para efeitos de cobertura das eleições e assim avaliar o amor à liberdade de imprensa que pulsa naquelas três almas.

Assim, limitaram-se a fazer figura de ‘empatas’, sem contribuírem minimamente para a alteração de uma lei que, tendo-se tornado inaplicável, carece de mudança urgente.