«Já estou dentro do submarino. Aqui vou eu até aos 100 metros de profundidade». Foi através desta mensagem que Bruno Gaspar anunciou a sua partida do Alfeite, a bordo do Tridente, para uma viagem de dois dias. Da experiência resultou um texto e um registo fotográfico que serão publicados na próxima edição da Tabu. Assim começa a nova secção 'Pela Costa Fora': ao longo de 40 semanas, Gaspar percorre toda a costa portuguesa à boleia de veleiros, navios da marinha mercante, semi-rígidos, traineiras de pesca e até debaixo de água.
«Acho que poucos civis conseguiram viajar a bordo de um submarino», orgulha-se. «Permitiu-me perceber como é que os 34 tripulantes se articulam entre si como uma espécie de colmeia». Não é qualquer um, explica, que tem perfil de submarinista. «Aquilo não é um chalé nem é como os submarinos russos, que chegam a ter piscina lá dentro. É pequeno, os corredores são estreitos. Às oito baixam a luz para simular a chegada da noite», descreve. Gaspar destaca também a sofisticação da tecnologia a bordo: «Consegue-se ouvir até os camarões!».
A nova rubrica vai fazer um retrato de Portugal visto do mar, abarcando a relação das povoações com o oceano, histórias de vida, a arquitectura da nossa costa, a questão ambiental, as profissões, a diversidade de paisagens e a riqueza da nossa gastronomia.
Gaspar não é um novato nestas andanças. No ano passado assinou a secção da Tabu 'Pela Estrada Fora', em que percorreu o país de lés-a-lés numa Macal com 40 anos, à procura de tesouros pouco conhecidos e de «refúgios de boca» que servissem petiscos invulgares. O autor não se furta a provar as iguarias mais estranhas e quando esteve recentemente na China, por exemplo, fez questão de provar cobra.
Bruno Gaspar nasceu em Paris em 1979. «Os meus pais viviam perto dos Jardins do Luxemburgo e eram vizinhos do Gérard Depardieu. Não eram amigos de ir lá jantar a casa, mas cumprimentavam-se. O Jean-Paul Belmondo também. Quando a minha mãe estava grávida de mim, ele acariciou-lhe a barriga e deu-lhe os parabéns». A família regressou a Portugal quando Gaspar tinha três anos, e instalou-se nas Torrinhas, perto de Leiria.
Licenciado em História da Arte, também é artista plástico e leva sempre material de desenho na mochila. «O contacto dos meus pais com as galerias e os artistas em Paris ficou-me gravado na cabeça. Pelos 13 anos, por inspiração do meu irmão, que era muito talentoso, comecei a desenhar. E depois tive uma paixão platónica pela Vieira da Silva», graceja. «Às vezes dizia à minha mãe que ia escalar umas paredes que há aqui na região de Leiria, apanhava o Expresso e ia a Lisboa à Fundação Vieira da Silva».
Gaspar acredita que, além da experiência a bordo do Tridente, «haverá outras viagens que poderão ser uma surpresa para os leitores». Por exemplo? «Vou acompanhar uma polícia de patrulhamento no Algarve, numa lancha de alta velocidade». E a 9 de Maio, dia do seu aniversário, parte a bordo de um cargueiro com destino à Madeira.
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