Este entusiasmo com os resultados alheios é compreensível no ambiente pré-eleitoral que vivemos, embora não legitime a antevisão de uma vitória PSD/CDS em Portugal idêntica à obtida pelos conservadores britânicos. Mas é isso que Pedro e Paulo sugerem: que, à semelhança do Reino Unido, também em Portugal há-de ser premiada a “responsabilidade” e a “coragem” do abnegado Governo que sacrificou a sua popularidade à defesa do superior interesse do país através da austeridade.
Acontece que nem a austeridade portuguesa e os seus efeitos brutais na economia e na sociedade são comparáveis aos que os britânicos conheceram, nem em Portugal se verificam as condicionantes que tanto favoreceram os conservadores nestas eleições. Desde logo, um sistema eleitoral que nada tem a ver com o português e, acima de tudo, o poderoso factor Escócia que polarizou em Cameron a última esperança de manter unido um reino ameaçado de desmembramento.
Se, ao contrário do que pretende a coligação PSD/CDS, as eleições inglesas nada nos dizem sobre as eleições portuguesas, isso não significa que ela não possa alimentar hoje expectativas bem mais risonhas do que as que lhes eram consentidas ainda há pouco.
É certo que os indicadores positivos de crescimento económico não se traduzem, de momento, em melhorias sensíveis no bolso dos portugueses, nem na percepção de que ficaram definitivamente para trás as políticas de austeridade sem fim. Mas permitem ao Governo, respaldado na opinião progressivamente mais favorável das sempre desconfiadas instituições europeias, sustentar um discurso optimista que pode motivar muitos eleitores hesitantes.
Sobretudo quando o maior partido da oposição está condenado a prometer pouco para ser rigoroso e verdadeiro, ou a desacreditar-se com promessas que não possa cumprir. A fé de Pedro e Paulo num desfecho eleitoral à inglesa não é, por isso, inteiramente despropositada. Ainda que nada tenha a ver com a Inglaterra.
Sete milhões
Sete milhões de euros são muito ou pouco dinheiro? Uns trocos para Bill Gates, cuja fortuna chega aos 68 mil milhões, mas uma soma difícil de conceber para quem viva com o salário mínimo em qualquer país do mundo. Por exemplo, no Nepal, onde ele ronda os 40 euros mensais. Sete milhões foram a verba doada por Cristiano Ronaldo à organização Save the Children para apoiar as vítimas dos terramotos no Nepal. O dinheiro tem o valor daquilo que se pode fazer com ele. E este, destinado à construção de casas, tem um valor inestimável para aqueles que, sem tecto e entre ruínas, venham a beneficiar da generosidade do futebolista português. Nos últimos anos, Ronaldo tem dado múltiplas provas de atenção aos outros, em pequenos e grandes gestos. Dele se pode dizer que parece crescer, enquanto homem e cidadão do mundo, à medida que amadurece, enquanto milionário da bola.
Dever de reserva
A procuradora-geral da República votou contra, soube-se agora, na reunião do Conselho Superior do Ministério Público em que foi aprovada a abertura de um inquérito aos procuradores que, num selecto clube virtual instalado no Facebook, se divertiram à grande, congratulando-se ao despique e rebolando-se de gozo com a prisão de José Sócrates. A PGR votou contra por entender que a matéria dificilmente configurará alguma infracção disciplinar, mas foi ela que levou o assunto à reunião, pois considera que “a forma de expressão em causa não respeitava os princípios éticos e deontológicos que devem nortear os magistrados”. Parece que estão sujeitos a um “dever de reserva”, mas, se o violarem, nada acontece. O que mais espanta, porém, é que os tais procuradores do Facebook, sendo pessoas crescidas, precisem que lhes ditem regras para se comportarem de forma a não descredibilizarem a função que exercem.