Passados 4 meses a Grécia passou de esperança reformadora da Europa a um país sufocado e acorrentado sem capacidade para assumir os seus compromissos. Na Grécia, a vitória do Syriza também se sustentou em discursos inflamados sobre o fim da austeridade baseada em algumas medidas como o fim dos cortes salariais, a readmissão dos funcionários públicos despedidos pelo governo anterior, uma nova reforma fiscal, o aumento do salário mínimo (que duplicou), serviços básicos gratuitos para 300 mil famílias, a reabertura do canal público de televisão, o fim das taxas moderadoras na saúde e o fim das privatizações.
É hoje claro, julgo, que o plano Syriza falhou. A Grécia ainda não conseguiu chegar a acordo com a Europa e a cada dia que passa já perde, segundo a Confederação do Comércio e Empresas Helénicas, 22 milhões de euros, 59 empresas e 613 postos de trabalho. A Grécia, em 4 meses deste novo governo, já necessita de um novo financiamento na ordem dos 25 milhões de euros.
Por cá, em Portugal, depois do cumprimento no devido tempo de um plano duro e rigoroso, ao contrário da opinião daqueles que insistiam na espiral recessiva e num novo resgate, a economia dá sinais de crescimento, a confiança dos consumidores está a aumentar, os juros da divida estão em mínimos históricos e a despesa primária diminuiu significativamente. Não melhorou tudo é um facto. Há aspetos relevantes, como o desemprego, que devem ser alvo de atenção. Aliás foi isso mesmo, entre outras coisas, que o relatório do FMI veio, há dias alertar.
Em Portugal, depois destes sacrifícios e destes resultados, há um partido que quer governar e que, como o Syriza, promete tudo o que puder prometer sem, em rigor e em consciência, qualquer tipo de compatibilidade possível com as regras do Tratado Orçamental a que estamos sujeitos. Veja-se o que nos diz o economista inglês, Ambrose Evans-Pritchard (conhecido pelas suas posições eurocéticas), no jornal TheTelegraph sobre as propostas de António Costa. “Enquanto o PS insiste que é um animal diferente do movimento radical Syriza na Grécia, há uma notável semelhança em algumas das propostas e da linguagem pré-eleitoral. O Syriza também se comprometia em manter as regras da UEM [União Económica e Monetária], enquanto ao mesmo tempo fazia campanha por medidas que tinham como intenção provocar uma colisão frontal com os credores”. Na Europa, até na opinião eurocética, já se percebeu o resultado das intenções de António Costa. Por cá começamos a ter essa consciência, menos ele, claro.