Nas próximas semanas, outro nome pode-se juntar a este lote: Pires de Lima. O ministro da Economia terá de tomar uma decisão sobre o candidato vencedor no concurso para a compra da TAP até ao final do mês de Junho, mas o processo pode vir a arrastar-se caso um dos preteridos venha a contestar a decisão, como parece ser provável. Mesmo que isso não aconteça, depois de seleccionada a proposta vencedora terão ainda de ser ouvidas as entidades supervisoras e Bruxelas e isso deverá fazer com que o tema se mantenha na agenda mediática durante a campanha eleitoral.
“A TAP é uma matéria muito sensível”, aponta uma fonte do Governo, revelando que o próprio ministro da Economia tem manifestado juntos dos seus pares a preocupação com este tema.
Anabela Rodrigues e Nuno Crato são, no entanto, considerados os casos de maior risco político durante a campanha das legislativas. Não só por serem os que têm menos experiência política, como por terem em mãos alguns dossiês particularmente quentes.
O dossiê melindroso dos estatutos da PSP e GNR
No caso da ministra da Administração Interna, a negociação dos estatutos da PSP e da GNR poderá ser mesmo o foco de maior instabilidade.
Anabela Rodrigues tem gerido o processo de uma forma que é classificada dentro do próprio PSD como “desastrosa”, ao ignorar a negociação com os sindicatos que estava quase fechada pelo seu antecessor, Miguel Macedo. A atitude da ministra de voltar à estaca zero negocial abriu uma nova guerra com as forças de segurança, que voltaram a ameaçar com uma manifestação, algo que é visto como de “alto risco” em plena época eleitoral. “Basta os sindicatos aperceberem-se de que a ministra da Administração Interna é o elo fraco do Governo para se instalar o caos”, antecipa ao SOL um ex-líder do PSD que considera, no entanto, que nesta matéria “o período de maior desgaste deverá ser até o mês de Agosto”.
Com os termómetros a subir e o risco de incêndios a aumentar, Anabela Rodrigues estará também aí sob pressão, fazendo jus a ser vista como uma 'bomba-relógio' eleitoral. “Há sempre mais incêndios em época de eleições”, aponta uma fonte do PSD, corroborando o que Assunção Cristas, ministra da Agricultura e dirigente do CDS já afirmou em entrevista ao SOL – chegando a propor uma alteração da lei eleitoral.
“Há coisas que são de calendário e não se podem evitar”, reconhece um vice-presidente de Passos, admitindo que a preocupação este ano será maior porque em anos de legislativas o tema “pode gerar mais ruído mediático”, pelo que “a gestão terá de ser mais cuidadosa”.
Passos Coelho chamou por duas vezes a ministra
Mesmo no PSD, ninguém esconde que o secretário de Estado do CDS, João Almeida – com a pasta dos fogos -, poderá ser quase um seguro de vida para o Governo, compensando a falta de experiência de Anabela Rodrigues. “A ministra ainda está a aterrar”, reconhece um vice-presidente social-democrata, que não esconde a preocupação com a falta de músculo político de Anabela Rodrigues.
“A ministra tem problemas de comunicação”, concorda outra fonte social-democrata, admitindo que “João Almeida pode salvar a época de fogos”.
Alertado para o clima explosivo que se vive no sector, Passos Coelho chamou por duas vezes Anabela Rodrigues nas últimas semanas. Há duas semanas, o primeiro-ministro quis ouvir da ministra em que estado estão as negociações com os sindicatos das polícias sobre os estatutos da PSP e da GNR. Na semana passada, após os incidentes durante as celebrações do Benfica em Lisboa e da agressão policial ao um adepto benfiquista em Guimarães, Passos quis ouvir de novo a ministra.
Parlamento vigia Crato
Nuno Crato, que no ano passado viu o regresso às aulas manchado pelos erros na colocação de professores, também estará debaixo de todas as atenções durante a campanha eleitoral.
Para já, o grupo parlamentar do PSD tem acompanhado de perto a preparação do concurso de professores. “Estão a ser feitos testes ao sistema informático para garantir que não há problemas”, diz ao SOL um deputado social-democrata, que confessa a especial atenção dada pela maioria à Educação em campanha eleitoral. “Acima de tudo, queremos que as aulas comecem com o mínimo de incidentes. Já não temos muita esperança de que os professores votem em nós. Mas não queremos perder os pais”, assume a mesma fonte.
“O arranque do novo ano lectivo vai ser uma prova importante. O ministro vai estar sob uma grande pressão”, alerta um vice-presidente do CDS, explicando que o facto de, no ano passado, ter havido problemas que atrasar em muitos locais o início das aulas faz com que este ano “o cuidado tenha de ser ainda maior”.
Além do risco de enfrentar uma manifestação de polícias, o Governo pode ter também nas ruas os professores. Paulo Guinote, autor do blogue A Educação do Meu Umbigo, reconhece mesmo que o risco de protestos a semanas das legislativas é grande, “porque é da natureza das campanhas eleitorais prestarem-se a aproveitamentos desse tipo por parte de organizações com uma agenda político-partidária muito forte”, como os sindicatos dos professores. Guinote considera, aliás, que o grau de conflitualidade no sector é grande e admite que a Educação poderá ter “efeitos dramáticos” para a coligação.
Macedo em 'alerta amarelo'
Se Crato e Anabela Rodrigues são considerados de alto risco em campanha, Paulo Macedo é encarado como um ministro que pode estar na berlinda durante a campanha eleitoral.
“A Saúde é sempre uma área muito crítica e sensível”, avisa um destacado social-democrata, exemplificando que “basta ocorrer algum caso – como alguém que morre numa ambulância ou numa maca nas urgências – para causar logo um estrondo enorme”.
“É preciso ter atenção ao que vai acontecer”, afirma um dirigente social-democrata, explicando que a gestão destes casos será sempre sensível.
Depois de o caos nas urgências hospitalares ter dado polémica no Inverno, o cenário pode repetir-se caso a temperatura suba muito durante o Verão, aumentando a afluência, sobretudo de idosos, aos hospitais.
Médicos de família em causa
O problema pode ser agravado pelas lacunas nos cuidados de saúde primários. Mais de um milhão de portugueses continua sem médico de família, devido a um défice de 800 clínicos desta especialidade.
A noção do risco que a situação comporta levou já o Governo a anunciar a abertura de 400 vagas para médicos de família entretanto aposentados. E António Costa prometeu na semana passada, na apresentação do programa do PS, criar 100 unidades de saúde familiar e garantir médico de família a mais 545 mil portugueses.
Mas na maioria há a convicção de que esta área se revelará menos problemática do que a Educação e a Administração Interna. “Vai sempre haver fogos, vai sempre haver problemas nas escolas e haverá sempre idosos a entupir as urgências. É preciso é saber fazer bem as coisas e ir gerindo os casos”, diz um vice-presidente de Passos Coelho.