Dados de um inquérito a 4.028 estudantes de todo o país revelam que "efectivamente as raparigas apresentam uma propensão à cópia em exame superior à dos rapazes, com 63,3% das alunas a admitir ter copiado em exame contra 54,9% dos alunos", avançou à agência Lusa Aurora Teixeira, professora na Faculdade de Economia da Universidade do Porto e investigadora do Observatório de Economia e Gestão e Fraude (OBEGEF), que liderou o estudo científico.
"As meninas revelam-se mais prevaricadoras no que diz respeito à cópia em exame e nomeadamente na cópia pelo colega do lado", referiu a especialista, explicando que apesar de as mulheres estarem sobre representadas na amostra (68,8%), os dados da propensão à cópia e outros comportamentos desviantes estão em termos relativos.
O estudo/inquérito revela também que são as mulheres que mais pedem para assinar as aulas por si aos colegas.
Segundo explicou a investigadora, normalmente são os homens, por terem carácter de maior risco, que aparecem na literatura como sendo os mais prevaricadores, mas no novo estudo "Integridade Académica em Portugal" tal não aconteceu.
O estudo revela também que o copianço tanto é admitido por estudantes com inclinação religiosa (62,1%) como por estudantes sem inclinação religiosa definida (58,2%). "Não há diferenças significativas entre estudantes de acordo com a sua inclinação religiosa ou falta dela", disse a investigadora.
Em termos das classificações, são os estudantes com mais baixas classificações que têm maior propensão a cometer fraude académica.
Um outro dado a destacar é o facto de a reciclagem de trabalhos de uma disciplina para outra ter maior prevalência em estudantes com melhores médias. O facto explica-se porque os estudantes que têm boas notas nos trabalhos tendem a reciclá-los para outras disciplinas, considerou Aurora Teixeira.
Quarenta por cento (dos estudantes inquiridos admite ter pedido a colegas para assinar por si na aula (as presenças na aula) e a maioria deles são os "estudantes dirigentes associativos" (65,1%) e não os estudantes trabalhadores (21,9%)", como se poderia pensar, acrescenta a investigadora Aurora Teixeira.
O estudo intitulado "Integridade Académica em Portugal" está distribuído por graus de ensino – desde a licenciatura (1.º ciclo), mestrado integrado e mestrado (2.º ciclo), até ao doutoramento (3.º ciclo) e pós-graduações -, abarcando escolas e subsistemas universitário e politécnico e ensino público e o privado.
O objectivo do estudo científico foi "caracterizar a situação portuguesa dos estudantes inscritos no ensino superior no que se refere aos diversos comportamentos e condutas desviantes em termos académicos, designadamente cópia em exames e plágio", revela também que são as mulheres que mais pedem para assinar as aulas por si aos colegas.
O inquérito foi transversal, pois houve inquiridos nas várias áreas de estudo, que vão desde as ciências sociais, passando pelas artes e humanidades, até às engenharias.
A investigadora considera que há "regras apertadas" no ensino superior português sobre os comportamentos fraudulentos nas universidades e salvaguardou que existem "sanções relativamente fortes". No entanto, a especialista considera que a vida académica, que classifica de "muito burocrática", devia ser mais "simples" e mais "célere" para ser mais eficaz.
A investigadora defende que as boas práticas no ensino superior e os códigos de conduta e ética devem ser defendidos e aplicados não só pelos professores, mas também pelos estudantes.
O inquérito foi implementado em marco e Abril deste ano.
Lusa/SOL