Num vídeo gravado por López na prisão, o líder da Vontade Popular e ex-presidente da Câmara de Chacao lamenta que, 15 meses após as manifestações que levaram milhares às ruas e resultaram na morte de mais de 40 pessoas, a situação esteja “pior”, com “mais filas, mais inflação, mais escassez, mais insegurança, mais corrupção”.
López pediu uma “forte, expressiva e pacífica manifestação” para sábado, exigindo “a liberdade para todos os presos políticos, o fim da censura e da repressão e a marcação das eleições legislativas”, agendadas para 2015 mas ainda sem data definida.
De barba crescida e crucifixo ao peito, o venezuelano educado em Harvard diz ter decidido, com Daniel Ceballos, iniciar no “próprio dia”, domingo 23, quando o vídeo foi colocado no YouTube, uma greve de fome. Ceballos – ex-presidente da Câmara de San Cristóbal também detido como López por alegada conspiração e incitamento à violência, e sem julgamento marcado – foi transferido no fim-de-semana para um anexo da Penitenciária Geral, longe de Caracas.
O advogado de defesa considerou a mudança “uma violação dos direitos humanos”, porque não foi informado da transferência nem houve ordem de um juiz. A mulher de Ceballos descreveu o local como “uma prisão do tipo nazi”.
Na segunda-feira, o defensor del Pueblo (provedor de Justiça que promove e defende os direitos humanos no país) negou que López tivesse concretizado o plano de greve de fome. Porque no domingo, garantiu Tarek William Saab em declarações à estação colombiana Blu Radio, “a Provedoria viu-o e constatou o seu estado de saúde, os filhos dele visitaram-no e almoçaram juntos”.
López pode contar com apoios de peso fora da Venezuela – como o Clube de Madrid, um grupo de ex-líderes mundiais que no mês passado enviou uma carta aberta ao PR venezuelano pedindo a libertação de “todos os cidadãos que estão presos por terem exercido o seu direito de liberdade de expressão”. O Clube inclui nomes como o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González (que se prontificou a integrar a equipa de defesa de López), o ex-PR timorense Ramos-Horta, ou o também ex-PR do Brasil Fernando Henrique Cardoso.
Só que, na Venezuela, o apoio fractura-se. A coligação dos partidos da oposição MUD não estará representada no sábado. Henrique Capriles, que quase venceu Maduro nas presidenciais de 2013, confirmou a presença pelo Twitter: “Temos de meter na cabeça que somos todos venezuelanos, que a comunidade está primeiro do que um partido político”.