Sim, sim

O referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Irlanda resultou numa sólida vitória do sim. Não tardou até que os noticiários falassem sobre a surpresa de vermos um país conservador a votar nesse sentido.

Talvez a palavra seja 'católico' e não 'conservador', mas percebo a confusão. Na verdade, se a Irlanda for um país conservador a votação não é surpresa nenhuma. Existe uma instituição que está em risco de desaparecer, que é precisamente o casamento. Afastar os casais do mesmo sexo da oportunidade de se unirem num contexto de monogamia significa tornar o casamento num clube restrito e de difícil acesso. Casais que não podem ou não querem ter filhos, por exemplo, também não devem então casar, se acrescentarmos mais uma regra para o casamento 'como deve ser': a da descendência. A Irlanda votou a favor do casamento, só isso. Porque quer preservar a instituição mais importante da sociedade. Porque não é um país reaccionário. Bravo, Irlanda.

Perigo no autocarro

Cheguei a esta notícia por um artigo publicado no site da cadeia de livrarias Barnes & Noble. Sarah Auger, de oito anos, canadiana, gostava de ocupar os vinte minutos que demorava a chegar da escola a casa a ler um livro no autocarro. A criança levava um livro para se entreter naquele trajecto e tudo estava em paz até um dia o motorista lhe dizer que não devia ler no autocarro porque os outros meninos podiam levantar-se para ir ver. Se houvesse uma paragem brusca, alguém ainda se magoava, a começar pela leitora que podia bater com a cabeça no canto do livro.

Será que a criança não levava um paperback? Esta é só uma história sobre uma jovem leitora que não quer brincar no autocarro com os colegas porque tem mais que fazer. O adulto não percebe a autonomia e quer impor regras. Quanto ao motorista, se tem uma fixação tão grande com a segurança então o melhor será não transportar ninguém. Quanto a Sarah, sugiro ao pai que lhe ofereça um Kindle. 

Seis meses atarefados

Os resultados das eleições regionais em Espanha não foram surpresa para ninguém. Ou talvez o tenham sido para o PSOE. Na verdade, o PSOE, não tendo ganho, com as alianças certas, vai poder manter algum poder e provar que os movimentos de cidadãos, como o Podemos e o Ciudadanos, não são o seu pelotão de fuzilamento. A Catalunha foi a mais abençoada das regiões. O mais curioso é que, em Dezembro, se vão realizar as eleições gerais, que equivalem às nossas legislativas. Digo 'curioso' pela simples razão de a sua proximidade no tempo obrigar a que todas as forças políticas espanholas, tanto as tradicionais como as recém-chegadas, entrem em hiperactividade quer para parar a descida do desconcentrado PSOE, quer para provar que o PSOE aprendeu alguma coisa para usar neste futuro tão próximo. Os novos movimentos deverão convencer os eleitores que não servem só para criticar e que são de confiança.

E isso, desculpem lá, mas já me parece mais difícil. 

Treino cerebral

Kelly Clancy é estudante de pós-doutoramento em Neurociência na Universidade de Basel, na Suíça, e escreveu um artigo publicado na Nautilus sobre um tema que quase parece ficção científica: 'desaprender' a estar doente. Hoje sabemos que o cérebro é muito poderoso e que tem até a capacidade de aprender a estar doente. Os exemplos que dá são fascinantes. Um paciente tinha artrite na coluna. As dores eram tão fortes que os médicos tiveram de lhe destruir os nervos sensoriais na zona inferior do corpo. Mesmo assim, embora não pudesse ter nenhuma sensação, continuava a sentir umas dores terríveis, porque a memória da dor era mais forte. O cérebro estava orientado para 'sentir' aquela dor crónica mesmo ao mais ligeiro toque. A electroconvulsivoterapia é o tratamento, que também é usado em casos de depressão profunda ou doença de Parkinson. Treinar o cérebro é outra hipótese. Sim, repetir-lhe que não há dor porque nada o justifica. Será que resulta? 

A biblioteca de Bin Laden

O governo americano divulgou documentos encontrados no esconderijo de Osama bin Laden, que até agora estavam marcados como confidenciais. A imprensa falou de uma vasta colecção de pornografia, que os serviços secretos ainda não divulgaram. Ninguém parece ter ficado muito surpreendido. A vida no deserto é chata. Além do mais, o que se espera de um homem que condena com tanta veemência a amoralidade do mundo ocidental a não ser que consuma precisamente aquilo que mais diz odiar? O que me surpreendeu foi a existência de um livro que os serviços secretos dizem poder pertencer a outras pessoas que viviam na mesma casa. O livro já tinha sido desclassificado. Trata-se de um guia de prevenção do suicídio com o título piroso, Is It the Heart You Are Asking? O autor é o Dr. Islam Sobhi al-Mazeny. Uma vez que uma das armas do terrorismo islâmico é o bombista suicida, admito que estou confusa. A não ser que as leitoras fossem as mulheres de Bin Laden.