Vai apoiar Sampaio da Nóvoa nas presidenciais do próximo ano?
Ainda é muito cedo para definir apoios e estamos longe de conhecer dois aspectos essenciais: o conjunto dos candidatos e o contexto em que vai decorrer este processo eleitoral depois das legislativas.
Dos candidatos que já são conhecidos nenhum terá o seu apoio?
Não são só esses que vão a eleições. E ainda se precisa de conhecer bastante os seus programas e posicionamentos e o que se passará com as legislativas.
Acredita que há espaço por preencher à esquerda?
Há um espaço amplo onde pode aparecer mais do que um candidato, que tenha uma postura ofensiva em relação aos aprisionamentos do nosso país no contexto da União Europeia e da zona Euro e que tenha uma preocupação a partir do social. Trata-se de um espaço à esquerda mas que em alguns aspectos é quase transversal à sociedade portuguesa.
Sampaio da Nóvoa já apresentou a sua carta de princípios. Não é candidato para ocupar este espaço?
É cedo para me pronunciar sobre isto. Mas devo dizer que tenho pelo António Sampaio da Nóvoa estima enquanto pessoa e enquanto académico e muitas vezes recebi dele contributos importantes para actividades que precisávamos de desenvolver.
Tentou inclusive um acordo com ele para uma candidatura presidencial.
Dialogámos e a iniciativa primeira de diálogo até não foi minha. Foi do Sampaio da Nóvoa.
O que falhou?
Não quero falar mais sobre isto porque tenho a obrigação, como todos os portugueses, de dar contributos positivos e não negativos num momento em que um candidato, Sampaio da Nóvoa, está a desenvolver a sua candidatura.
O apoio de Mário Soares teria sido essencial para avançar?
Não. Posso até dizer que recebi muitas mensagens de apoio… da rua. Eu sou dos poucos portugueses que se podem orgulhar de serem tratados pelo nome pela maior parte das pessoas. Até sem-abrigo me fazem isso. Sou muito bem tratado na sociedade portuguesa e, nesse sentido, sou um privilegiado. Mas devo dizer que não tenho nenhuma obsessão por uma candidatura presidencial. Se tivesse, já teria sido candidato em outros momentos. O que me predispus mais do que em situações anteriores foi a analisar as expressões múltiplas de apoio para tomar uma decisão a nível pessoal.
Já falou com Mário Soares depois do anúncio de Sampaio da Nóvoa?
De tempos a tempos encontramo-nos. Muitas vezes até mais por iniciativa dele, que gosta de manter contacto com as pessoas, do que por minha iniciativa. Mas julgo que no último mês não falámos: nem pessoalmente nem ao telefone.
Vai apoiar um candidato na primeira volta?
Não sei. Não imagino. Mas sou daqueles portugueses que vota.
O PCP ainda não apresentou candidato. Pode ser esse a receber o seu apoio?
Não sei se vai haver candidato do PCP e não imagino quem vai ser esse candidato. Mas desde o espaço do PS ao espaço do PCP e ao espaço do BE há hipóteses diversas. Cavaco Silva mostrou pela negativa o quão importante é o Presidente da República. Por isso há uma preocupação imediata: valorizar as presidenciais, o contributo que os candidatos presidenciais devem dar, trazendo problemas que devem estar na agenda das próprias legislativas.
Neste quadro, o PS deve dar mais importância às presidenciais?
A esquerda cometeu um erro gravíssimo ao secundarizar as últimas presidenciais. Além disso, para haver a vitória de um candidato à esquerda é preciso que toda a esquerda se mobilize e que o PS esteja todo presente. Da parte do PS esse sinal não está adquirido.
Apoiar um candidato só depois das legislativas é arriscado?
Parece-me que não é possível recuperar a partir de Outubro, se logo a seguir às legislativas não forem dados sinais bem claros. Espero que não se repita o que aconteceu há dez e há cinco anos.
Em 2009 apoiou António Costa para a Câmara de Lisboa. É o seu candidato a primeiro-ministro?
Neste momento, seguramente não é. Não é fácil que venha a ser. Vamos ver.
O PS não tem descolado nas sondagens. É uma questão de tempo?
As forças do chamado centrão de interesses estão mais interessadas em apresentar o foguetório que dá a ideia de uma disputa de dois projectos entre direita e PS, esbatendo na retaguarda diferenças programáticas, para assegurar que das eleições resulta algum compromisso que mantenha o essencial das políticas actuais. Acho que isso é um perigo. Se o PS continuar a deixar-se envolver neste enredo que tem expressões concretas nas propostas para a Segurança Social, por exemplo, vai deixar muitas dúvidas.
Prefere um governo PS em minoria?
O que eu prefiro é que haja uma alternativa efectiva, que se distancie das políticas de austeridade. E não vejo que isso possa ser feito sem a participação de forças à esquerda do PS, embora o PS seja um elemento chave nesta estrutura partidária. Espero que o PS, com ou sem maioria, não vá pelo caminho da direita, como já tem acontecido em outras alturas.
Baixar a TSU (Taxa Social Única) é uma medida de direita?
Só digo isto: não se pode mexer nas contribuições dos custos dos salários, quer pelo lado dos trabalhadores quer pelo lado dos empresários. É um aventureirismo.
A direita acusa a esquerda de varrer para baixo do tapete o problema da sustentabilidade da Segurança Social, ao fazer depender o seu financiamento do incerto crescimento económico. Não é assim?
É a manipulação da direita e o bandistismo político que se gerou em torno desta questão. Não vamos resolver o problema da Segurança Social, como não vamos resolver os problemas da Saúde, se insistirem nestas políticas de austeridade, de empobrecimento e de esvaziamento do país, que inviabilizam políticas de emprego no sector público, no sector privado, com melhoria de salários.
Mas admite novas formas de financiamento da Segurança Social?
Claro. É a única coisa que o PS traz de significativo: fala pela primeira vez de forma aberta em algumas destas formas. O António Costa já falou inclusive numa proposta que tem origem na CGTP há uma série de anos:a contribuição a partir da observação do valor acrescentado líquido das empresas. Uma empresa de cem trabalhadores pode ter resultados líquidos muito superiores a uma empresa de mil trabalhadores. E eu digo: aplique-se este princípio.