PCP e BE apresentaram recentemente os eixos dos respectivos programas eleitorais. Em que diferem?
Ainda não li com atenção. Mas os dois partidos não apresentam as coisas em termos exactamente iguais. Temos de ver aquilo que é proposto e aquilo que é a prática dos dois partidos. Acho é que a representação social e política à esquerda precisa ser mais rentabilizada. É isso que tanto o PCP, como o BE e as forças com maior ou menor força eleitoral que se movem à esquerda devem ponderar. Há cerca de 30% da representação eleitoral que está para lá do PS e da direita que precisa ser melhor utilizada, não só através de uma linha de conjugação de esforços, para consolidar e ampliar este espaço, como trazendo novos conteúdos para que os eleitores perspectivem uma base forte para uma governação nova.
E as coisas não estão muito voltadas para aí e isso preocupa-me.
É suficiente para o PCP querer apenas evitar que PS e PSD juntem os trapinhos, como disse Jerónimo de Sousa.
Claro que não é suficiente. Estou convencido de que do PCP perante a emergência de uma resposta, e ela tornando-se visível na sociedade, terá de se adaptar e terá capacidade para intervir. Agora: não entraremos num novo ciclo de governação com as práticas que foram seguidas ao longo destas décadas. Vai ter de surgir um novo quadro e até novos partidos.
E este novo quadro de relações inclui os partidos do centro?
Em períodos de grande crise as soluções em regra vêm das margens, o que não quer dizer que é feito só com as margens. As margens pressionam o centro, mas incluem o centro.
No último ano surgiram novas forças de esquerda. O Livre, por exemplo, traz alguma coisa de novo? Identifica-se com algum destes projectos?
Duas leituras: reconheço uma grande sinceridade e um esforço significativo destas pessoas que se movimentam e se organizam em busca de soluções. Mas, por outro lado, esta atomização não contribui para a tal rentabilização de que falava antes, ou seja, não se está a avançar na conjugação de esforços para retirar dividendos e ampliar capacidades de intervenção à esquerda. Como se vai sair daqui é uma interrogação. Mas acho que valia a pena um esforço mais acrescido.
O PS é o único factor de bloqueio nesta impossibilidade histórica?
O PS tem uma responsabilidade significativa neste processo. É evidente. Que a social-democracia europeia está feita num farrapo e que não apresenta caminhos alternativos sérios para a Europa também é um facto. O que é que vai surgir em alternativa logo veremos. Mas o meu maior desejo era que houvesse uma ultrapassagem de obstáculos e novas capacidades para diálogo, sem perder identidades.
Continua a ser comunista?
Não tenho razão nem quero renegar nenhuma das dimensões da formação que fui adquirindo ao longo da minha vida. Tudo o que aprendi e apreendi durante a minha passagem no PCP, que foi longa, está cá inculcado e são excelentes contributos para a minha intervenção.
Que balanço faz do mandato de Arménio Carlos na CGTP?
Fui dirigente da CGTP mas no dia em que deixei de ser dirigente deixei mesmo. O que é da CGTP compete à CGTP.
Mas tem uma opinião sobre o que lá se passa… Que balanço faz?
Olho a vida da central, vejo o seu andamento, vejo que o sindicalismo está hoje em enormes dificuldades, mas que eles fazem um grande esforço. Acima de tudo quero ser solidário.