PSD e CDS estão à procura de um desígnio

PSD e CDS sabem que não conseguem ganhar as eleições só com a mensagem de que puseram a casa em ordem e fizeram o que era preciso para ultrapassar a crise. E que a ameaça de um PS que leve o país de volta à bancarrota será também insuficiente para garantir o voto dos portugueses.…

Na primeira reunião da Comissão Política da coligação, que é presidida por Passos Coelho e Paulo Portas, foram pedidos contributos a todos os dirigentes e aos membros independentes para o programa que apontará o caminho para o futuro. O véu só será levantado quando o programa eleitoral da coligação for apresentado no final deste mês. Mas tudo aponta para que medidas – ou 'compromissos' como os dirigentes do PSD e do CDS lhes preferem chamar – para promover o crescimento económico, captar investimento e, consequentemente, criar mais emprego estejam no topo das prioridades.

Aliás a principal ideia condutora do programa da coligação PSD/CDS deverá ser mesmo o combate ao desemprego, como reconhece em entrevista ao SOL Nuno Magalhães, o líder parlamentar do CDS. 

«A campanha vai estar muito centrada aí, nas medidas para incentivar o crescimento económico e para combater o desemprego», antecipa ainda um membro do Governo, acrescentando que é também esse o contexto europeu e para onde apontam as principais propostas do PS e o discurso dos socialistas. Com uma ressalva diferenciadora: «A coligação propõe-se a fazê-lo de forma sustentada e gradual, não deixando o défice ultrapassar os 3% e sem aumentar a dívida», sublinha a mesma fonte.

Num plano diferente, mas igualmente destacado, estão as medidas que garantam a sustentabilidade da Segurança Social também são apontadas à direita como prioridades na agenda da campanha que se avizinha. Esta é uma área importante para repudiar a imagem de insensibilidade social que a esquerda tenta colar a PSD e CDS.

A 'falta de futuro' e a tese dos dois mandatos 
Com a pré-campanha já instalada, há quem no PSD critique a ausência de uma ideia inspiradora que transmita aos eleitores a mensagem de que reconduzir Passos e Portas na governação do país não significa, apenas, ter mais do mesmo. «Preciso de futuro na minha vida e não vejo futuro na narrativa da coligação», apontou esta semana Nuno Morais Sarmento, ex-ministro da Presidência de Durão Barroso, em entrevista ao i.

Sublinhando que pôr «as contas em ordem» não é um objectivo em si mesmo,  Sarmento usa uma imagem: «Não adianta pôr o carro na oficina, fazer a revisão, se depois o deixo parado».

O discurso justificativo de que o PSD e CDS venceram a crise é considerado insuficiente para ganhar eleições até mesmo na máquina partidária social-democrata. «Sem uma ideia de futuro não conseguiremos uma maioria para governar», diz ao SOL um dirigente do PSD. «Não chega dizer às pessoas que 'connosco pior não fica'», admite.

Até agora, porém, o PSD e o CDS apostam na ideia de continuidade do que foi feito. E sublinham com insistência o estado em que o país estava, as dificuldades que enfrentaram  e o que foram obrigados a fazer para pôr a casa em ordem. Matos Correia, vice-presidente social-democrata responsável pela elaboração do programa eleitoral, pede aos eleitores mais quatro anos para, segundo ele, «fazermos as coisas que gostaríamos de poder ter feito mas que não foi possível», porque a legislatura foi marcada pela presença da troika. «Estivemos presos às necessidades das urgências», justificou, em entrevista ao Observador.

Nesse mesmo sentido, são muitas as vozes no PSD e no CDS que lembram que esta coligação «sempre falou em dois mandatos» precisamente para, depois de num primeiro momento cumprir o memorando e o programa da troika que foi imposto, poder pôr em prática o seu próprio programa e as suas reformas com autonomia.

A coligação não vai deixar cair de forma alguma o discurso da importância que teve o trabalho feito nestes quatro anos –  e os ministros do PSD e do CDS já andam há uma semana pelo país em sessões temáticas, sob o lema 'Portugal no caminho certo', precisamente a prestar contas do que foi realizado nas várias áreas. Esse é considerado «o grande património da coligação que governou o país nos últimos anos e cujo mandato está a chegar ao fim», justifica um vice-presidente de Passos Coelho. Mas estão agora a ensaiar a mensagem de esperança para o futuro, a tarefa que a comissão política da coligação tem como prioritária.

sofia.rainho@sol.pt
* com Manuel Agostinho Magalhães