Passos, Cavaco e a tal frase batida

Se a Grécia cair, Portugal cai a seguir? A resposta a esta pergunta, que ensombra o futuro próximo do nosso país e da zona euro, ninguém a sabe. Passos Coelho, porém, garante que não. Diz que, no caso de acontecer à Grécia «algo de grave», o Tesouro tem condições para enfrentar sem dramas a mais…

Não se espera de um primeiro-ministro que faça coro com aqueles a quem o Presidente da República chamou recentemente «os profissionais da descrença» e «os profetas do miserabilismo». Na realidade, todos aqueles que, não estando, como Passos, em campanha para a reeleição, nem a despedir-se, como Cavaco, de um mandato em que, por vezes, também foi descrente e miserabilista, se lembram muito bem de uma 'frase batida' com que o mesmo Presidente e outros protagonistas, cá dentro e lá fora, bombardeavam os cidadãos: «Portugal não é a Grécia». Pois não. Mas foi a partir da Grécia que se desencadeou a tempestade que, independentemente das culpas próprias, viria a atingir-nos nos anos seguintes.

A velha frase voltou e tem hoje mais fundamento, atendendo à situação concreta que vivem os dois países: a Grécia à beira de uma bancarrota de que não se livrará sem um novo programa da troika, Portugal sem a troika trimestral e com dinheiro em caixa por um ano. Mas a verdade é que, por muito cheios que estejam os cofres – mérito da prudência que se deve creditar ao Governo -, depressa ficarão vazios se, tal como aconteceu em 2010/2011, o caso grego voltar a incendiar os mercados das dívidas soberanas com a mesma brutalidade de então. 

Não sendo esses mercados estúpidos, como por mais de uma vez nos explicaram Passos e Cavaco, a dúvida sobre se Portugal resistirá ou não a um eventual colapso da Grécia é mais do que legítima. Digam o que disserem para não «semear o desânimo e o pessimismo quanto ao futuro do nosso país» – palavras do Presidente -, a realidade é esta: a dívida portuguesa, descontando a pequeníssima parte que começou a ser paga ao FMI, por razões mais políticas do que financeiras, não cessou de aumentar nos últimos quatro anos. E, se compararmos o país de 2010 com o de 2015, encontrá-lo-emos mais pobre e com uma economia mais frágil, produzindo menos e, portanto, em condições bem mais problemáticas para pagar a dívida e os encargos dela. 

Perante este quadro, não admira que, caindo a Grécia, os tais mercados-que-não-são-estúpidos e que pretendem reaver com juros o dinheiro que investiram se voltem de novo para Portugal e para outros 'periféricos' endividados.

Com consequências que um primeiro-ministro em campanha eleitoral e um Presidente que optou por fazer as despedidas colado a ele não são os mais indicados para antecipar. Como disse Mario Draghi, mais prudente e distanciado, «são águas desconhecidas».

Transparência
António Costa promete combater a dependência do Estado em relação às assessorias técnicas privadas, começando pelos escritórios de advogados e outros «facilitadores», designadamente quando estão em causa contratos de obras públicas. Esta promessa segue-se à proposta de que todas as grandes obras tenham de ser aprovadas no Parlamento por uma maioria de dois terços. Ambas se enquadram no louvável propósito de assegurar maior transparência e evitar que os negócios do Estado se transformem em negociatas. Sem o dizer abertamente, Costa tenta armar a sua defesa contra os que lhe atribuem o propósito de um «regresso ao passado».

Vergonha
OGoverno húngaro tenciona construir um muro ao longo de 157 km de fronteira com a Sérvia para travar a imigração. O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados protestou, mas não consta que, na União Europeia, a notícia tenha causado um grande incómodo. Afinal, a Bulgária também já tem o seu muro na fonteira com a Turquia e vai prolongá-lo por mais 82 km. É uma forma expedita de lidar com os imigrantes ilegais, sem os trabalhos que a Itália enfrenta na tentativa de resolver, praticamente sozinha, um drama humanitário que não tem solução à vista, mas que envergonha a Europa. Nada como uns muros altos para esconder essa vergonha.