Ao que o SOL apurou, além dos habituais contactos institucionais, terão sido abordados temas como a expansão da Portela, a existência de uma infra-estrutura complementar para as low-cost e um novo aeroporto. Questões mais operacionais – a TAP é o principal cliente da ANA – estiveram também à mesa do almoço. Contactadas, nem a ANA nem o consórcio quiseram comentar.
Depois de anunciar um investimento superior a 600 milhões na TAP, 53 aviões novos e mais dez rotas para os EUA e outras oito a dez para o Brasil, David Neeleman, o estratega do consórcio Gateway, explicou que quer falar com a ANA e outras entidades para facilitar o processamento de passageiros em Lisboa.
Questionado pelos jornalistas sobre a capacidade da Portela, Neeleman afirmou ter “uma preocupação enorme”. Mas também considerou “haver tempo” já que os novos aviões para a TAP só começam a chegar em 2017. “Temos ideias do que pode ser feito para melhorar o aeroporto para os nossos clientes. Há muito espaço na Portela para criar um hub para os nossos passageiros que passem em Lisboa”, sublinhou.
Para poderem comprar a ANA, os franceses da Vinci comprometeram-se a pensar num novo aeroporto quando o actual atingisse a fasquia dos 22 milhões de passageiros, inicialmente prevista para 2025. Em 2014, 18 milhões de viajantes passaram pela Portela. Se o ritmo de crescimento de turistas se mantiver terá de ser tomada uma decisão mais cedo do que o previsto.
Amor 'luso-brasicano'
Quarta-feira foi um dia cheio para Pedrosa e Neeleman. Depois do almoço, os dois investidores visitaram a sede da TAP, onde estiveram com mais de 250 colaboradores e passaram pela manutenção, no hangar 6.
Nos vários momentos, frisaram que a TAP se mantém portuguesa e evidenciaram o empenho em torná-la a “melhor da Europa”.
Estão também já a tratar do entrosamento das equipas. “Já acontecem confraternizações entre os tripulantes da Azul e TAP no Aeroporto de Guarulhos [São Paulo, Brasil]”, escrevia o dono da transportadora brasileira na sua página do Facebook, quarta à tarde. A acompanhar, uma fotografia de funcionários das duas companhias com postais onde se via “TAP ama Azul”. Na sua intervenção, Neeleman – que nasceu no Brasil e mora nos EUA, e que por isso diz falar “brasicano”, um “sotaque de gringo misturado com brasileiro” – mostrou ter colado na parte de trás do telemóvel um autocolante com “Azul ama TAP”.
Nos próximos anos, a intenção do consórcio é voar para destinos como Boston, Washington e Chicago, nos Estados Unidos. Mas outras cidades brasileiras e norte-americanas com mais de um milhão de habitantes e sem ligação directa à Europa também têm potencial.
Crescer em África e racionalizar a oferta europeia – fechando rotas com pouca procura e reforçando as mais importantes – também está nos planos. “As novas rotas para EUA e Brasil fazem parte do plano estratégico que nos apresentaram. É uma nova visão de como servir os EUA a partir da Europa, através de Portugal. É uma visão extremamente interessante e foi um dos pontos que pesaram na decisão estratégica que tomámos”, analisou o presidente da TAP, Fernando Pinto, ao SOL.
Também a frota e os interiores serão renovados (ver em baixo). A transportadora deverá chegar a 2020 com mais aviões de longo curso e menos de médio curso. A aposta será em aparelhos mais modernos e eficientes, com menos custos por viagem.
Ameaça do PS não assusta
Vender empresas participadas não faz, para já, parte da estratégia. O futuro da Portugália – renovação da frota, integração na TAP – ainda está em estudo.
O consórcio Gateway só deverá acelerar a aplicação da estratégia após aprovação do negócio pelas autoridades europeias.
Por agora, vai colaborar no plano de ajustamento que a administração de Fernando Pinto está a traçar para melhorar as contas da empresa.
Sobre a intenção do PS de reverter o negócio caso seja Governo, há optimismo. “A nossa aposta quando vier outro Governo, seja qual for, é ter a TAP numa situação melhor do que está. E se assim for, qualquer Governo vai achar que foi uma boa operação e que deve continuar nas mãos dos privados”, antecipa Humberto Pedrosa, dono da Barraqueiro.
“Estamos bem animados”, concorda Neeleman.