A prisão do ex-primeiro-ministro e a instabilidade na Grécia são apontadas, entre os socialistas, como as principais razões para que o partido tenha sido alcançado nas sondagens pela maioria a três meses das eleições – a última sondagem da Universidade Católica dá a coligação com 38% e o PS com 37%.
A curva dos números assusta os socialistas. «António Costa pronunciou-se sobre a vitória do Syriza e isso marcou o seu espaço político. Se não tivesse falado, a mobilidade táctica agora era completamente diferente», afirma ao SOL um dirigente socialista próximo de Costa. «Se a solução encontrada na Europa for boa para a Grécia será boa para o PS, mas se Atenas sair do euro vai ser difícil de gerir», continua.
Listas de deputados sem rostos socráticos?
Um dos maiores desafios que Costa tem pela frente é a elaboração das listas de deputados à Assembleia da República, que só serão aprovadas em Comissão Política a 21 de Julho, mas que as federações já começaram a discutir e têm de aprovar entre 13 e 18.
Há pressões para renovar caras e excluir alguns deputados mais conotados com a ala socrática. E nas distritais, segue um braço-de-ferro entre costistas e seguristas, cujas feridas abertas nas eleições primárias ainda não sararam, e que tentam ao máximo colocar os seus mais próximos apoiantes.
Costa caminha sobre gelo fino: tem de conseguir encontrar um equilíbrio sob pena de dividir o partido em tempo de campanha. «Manuela Ferreira Leite, quando expulsou Passos e Relvas da lista prejudicou-se. Costa tem que renovar, mas não pode simplesmente sanear os seguristas e os socráticos. É um equilíbrio difícil», afirma um deputado. «Será um hara-kiri se Costa não conseguir unir o partido», garante outro dirigente.
Uma maior eficácia no combate ao Governo e à maioria também poderá ajudar o PS. «A frente parlamentar não correu bem, mas o Parlamento vai encerrar e esse problema deixa de existir até às eleições. Mas o PS tem que ser mais eficaz no combate à acção do Governo», refere o mesmo dirigente próximo do líder.
O discurso de PSD e CDS de que Costa é um «regresso ao passado» também tem que ser combatido pelos socialistas. E há quem apele a uma «contenção nas promessas». Depois da apresentação do programa eleitoral, que traz baixa de impostos e aumento de rendimentos para as famílias, entre outras promessas, Costa tem dado sinais de que quer ir com calma. Por exemplo, segundo apurou o SOL, apesar da pressão da Federação do PS/Algarve para que o líder se comprometesse em baixar as portagens nas Scut (incluindo na Via do Infante), aquando da sua visita a esta região do país no fim-de-semana, Costa não o fez.
Apelar ao voto útil e colocar o discurso ao centro
Depois de, nas últimas semanas, o apelo à maioria absoluta ter saído do discurso do líder do PS – não a pediu na Convenção -, Costa voltou a afirmar que o objectivo do partido é a maioria absoluta, numa reacção às últimas sondagens. «As sondagens que contam são as das urnas. O nosso objectivo é ganhar as eleições e com maioria absoluta», sublinhou.
Apelar ao voto útil e radicalizar o discurso na bipolarização – ou escolhem a maioria que infligiu sacrifícios aos portugueses ou o PS que é uma 'alternativa à austeridade' – deverá ser o caminho seguido. Apesar de poder ir piscando o olho à esquerda, o PS tem que captar o centro, onde as eleições em Portugal são habitualmente decididas. «Costa tem que estruturar a campanha de forma a acentuar os protagonistas fiáveis à esquerda mas sem alienar o espaço do centro», afirma o mesmo dirigente do PS.
Um discurso ao centro é, por natureza, moderado. Deverá incutir confiança ao eleitorado através de propostas credíveis, retirando o selo do despesismo que a direita quer colar ao PS.
Tendo em conta que PSD e CDS aplicaram um programa que é considerado por muitos um dos mais liberais de sempre e que os partidos à esquerda do PS rejeitam entendimentos de Governo, como PCP e BE, os socialistas esperam beneficiar desta organização do espectro partidário. «O PS é o único partido moderado em Portugal», frisa a mesma fonte.
Além disso, os socialistas poderão começar a insistir noutros temas mais caros à esquerda e que rivalizam directamente com a direita. «O PS deve apostar em áreas que lhe são favoráveis, como Educação, Saúde e Segurança Social. Se continuar a discutir só economia e finanças perde terreno para a direita», acredita outro dirigente nacional do PS.
A chave está nos indecisos
Com cada vez mais acesso à informação, o voto torna-se mais volátil e as pessoas decidem em quem votar cada vez mais em cima do dia das eleições. Na sondagem da Católica, 26% dos inquiridos dizem 'não sabe' quando questionados em quem irão votar nas legislativas.
Para João António, responsável pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica, a decisão pode residir «nos indecisos». «A chave está neste grupo enorme que se mostra disposto a ir votar mas ainda não sabe em quem», refere ao SOL. Aliás, um dos dados da sondagem que destaca é precisamente a quantidade de indecisos: «É normal haver indecisos, mas esta tinha muitos». Agora, tudo depende de como se vão comportar. «Votam PS? Ou coligação? Ou novos partidos? Ou acabam por não ir votar?», questiona.
Já Rui Oliveira e Costa nota, como analista, a «estabilidade completa do PS que há meses ronda os 37%» nas diferentes sondagens – Católica, Eurosondagem e Aximage. «Diria que é quase uma estagnação», conclui o também responsável da Eurosondagem.
Os gráficos das sondagens reflectem o entusiasmo dos eleitores logo após Costa ter ganho as primárias, no final de Setembro. Mas, à medida que os meses passaram, a curva foi diminuindo, aproximando-se dos registos que o ex-líder do PS António José Seguro tinha vindo a alcançar.
Rui Oliveira e Costa nota que Portugal é um dos países da Europa que tem maior resistência à dispersão de votos, concentrando o grosso da votação nos partidos do arco da governação – PS e PSD/CDS.
sonia.cerdeira@sol.pt