Primeiro, porque nem todas merecem crédito.
Segundo, porque não faz qualquer sentido comentar uma sondagem a dois anos das eleições.
Ou mesmo a um ano.
Ou mesmo a seis meses.
Recordo que, nas últimas legislativas, o PS ia bem colocado nas sondagens – e o vento só virou depois do debate televisivo entre Sócrates e Passos Coelho, que este venceu com clareza.
Portanto, comentar sondagens individualmente é uma inutilidade.
Uma perda de tempo.
Os comentários sobre sondagens só terão algum interesse se se debruçarem sobre tendências e tiverem em conta períodos alargados.
E é exactamente neste sentido que venho falar hoje do assunto.
Quando António Costa tomou conta do PS, há nove meses, os valores deste partido dispararam.
O líder socialista foi acolhido com grande expectativa – e as sondagens reflectiram esse sentimento.
Mas cedo começaram a cair.
Porque António Costa começou logo a desiludir.
A ideia que tínhamos dele era a de um político sólido, seguro, capaz de definir um rumo e segui-lo de forma consistente.
Ora, quando António Costa começou a aparecer mais, revelou inesperadas fragilidades.
Um dia mostrou que tinha um discurso para os portugueses e outro para os chineses.
Outro dia saudou a vitória do Syriza – para uns tempos depois falar dele como um grupo de “tontos”.
A dada altura avançou com propostas de alteração à TSU – mas logo a seguir recuou, perante os protestos de muitos militantes.
Enfim, Costa revelou-se um político ziguezagueante e muito pouco seguro.
A imagem de solidez do líder socialista esboroou-se, pois, em pouco tempo – e a evolução das sondagens reflectiu essa quebra.
Apesar disso, o PS andou muito tempo à frente da soma dos votos dos partidos da coligação, pois as pessoas estavam fartas da austeridade e queriam alguém que lhes desse esperança.
Sucede que, com a passagem do tempo, o Partido Socialista continuou a descer e a coligação começou a recuperar.
E assim chegámos ao momento actual, em que PS e coligação estão praticamente empatados.
Agora, a pergunta que todos fazem é esta: como vão evoluir as coisas até às eleições?
O PS vai outra vez distanciar-se e a coligação cair – ou passar-se-á o contrário?
A minha opinião é clara: com o aproximar das eleições, a coligação vai crescer e o PS vai manter ou perder votos.
Pensando num gráfico, temos a linha do PS a descer e a linha da coligação PSD/CDS a subir – pelo que, se a tendência se mantiver, dentro de pouco tempo a coligação começará a estar consistentemente à frente do PS.
Até porque há mais dois factores a ter em conta:
1. A raiva das pessoas ao Governo, que atingiu o ponto máximo em 2013, tende a esbater-se;
2. Os eleitores começam a pensar: “Estes, pelo menos, já conhecemos; e os outros podem vir a deitar os nossos esforços por água abaixo”.
Perante este quadro, quais são as armas que o PS tem para jogar?
Que a troika fez mal ao país?
Que a dívida pública cresceu, o PIB caiu, o desemprego aumentou, etc.?
Mas a troika já saiu de Portugal, são águas passadas – e depois da queda provocada pelas políticas de austeridade todos os indicadores começaram a melhorar.
Portugal recuperou a credibilidade internacional e os juros da dívida baixaram drasticamente.
A confiança no Estado foi restaurada.
A economia voltou a crescer e as exportações, após um período de adormecimento, tornaram a arrebitar.
O desemprego está a diminuir, situando-se ao nível do que estava antes da troika.
Por onde poderá, então, o PS pegar?
Pela dívida pública, que de facto aumentou muito?
Mas os socialistas defendem a flexibilização do défice – e, se isso acontecer, a dívida aumentará ainda mais…
Acresce que, em Maio, a dívida baixou pelo segundo mês consecutivo.
E há ainda o fantasma grego. Estão à vista os problemas de eleger um partido que promete mundos e fundos mas depois não tem como cumprir as promessas.
Claro que o PS não é o Syriza – mas os comentários de apoio à Grécia de muitos responsáveis socialistas não deixam os eleitores descansados.
Neste contexto, repito o que já disse: parece-me que a coligação vai ganhar as eleições.
E pode muito bem sonhar com a maioria absoluta.
De um lado está um Governo que já mostrou resultados – doutro lado está um partido cujas promessas, além de suscitarem reservas, podem assustar muita gente.