“Não nos causa qualquer embaraço ou mal-estar”, assegura um vice-presidente do PSD. Uma opinião que é partilhada por outro vice de Passos, que desvaloriza o facto de a oposição poder usar a má imagem de Relvas para tentar atingir o líder do partido. “Estamos todos preparados para levar pancada. Se não for por isto, será por outra coisa qualquer”, afirma, antecipando que “haverá sempre barulho ao longo dos próximos meses”.
Aliás, ao que o SOL apurou, o PSD 'em peso' vai marcar presença, amanhã, no lançamento do livro do ex-ministro de Passos Coelho, incluindo o próprio líder do partido.
Também no CDS este ressurgimento e até mesmo as notícias que trouxeram de novo à baila as polémicas em que Relvas esteve envolvido – como as alegadas ligações ao ex-director das 'secretas' Jorge Silva Carvalho ou a rápida licenciatura obtida na Universidade Lusófona – não causam incómodo.
“Não há nenhum facto novo, é um livro dele”, começa por sublinhar um dirigente centrista, alertando que nesta matéria de polémicas à volta de figuras que podem ser usadas para atingir os líderes dos partidos em campanha “o PS tem muito mais motivos para estar preocupado”.
“Querem pôr fotografias de Relvas ao lado de Passos? E quantas têm para pôr de Sócrates ao lado de Costa?” reforça o dirigente centrista, acrescentando que “nem são situações comparáveis, já que a de Sócrates é muito mais delicada”, sendo que “a única coisa em comum é a proximidade entre Passos e Relvas e a proximidade entre Costa e Sócrates”.
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Relvas deverá renunciar a candidatura em Santarém
Este vice-presidente de Paulo Portas sublinha, no entanto, que o que poderia gerar um maior mal-estar e alguma fricção política seria Passos convidar Relvas para encabeçar alguma lista nas próximas eleições legislativas.
Embora esta questão ainda não esteja fechada, tudo aponta para que Miguel Relvas não venha a integrar as listas da coligação. Isto, apesar de ainda recentemente numa reunião da distrital de Santarém o seu nome ter sido sugerido pelo presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, para liderar a lista naquele distrito. No entanto, a maioria dos dirigentes apontou para Nuno Serra, o líder da distrital. E o próprio Miguel Relvas deverá desfazer muito em breve o 'tabu' e anunciar que não pretende integrar as listas para as próximas eleições.
Na introdução do livro O Outro Lado da Governação, Relvas assegura que não existe na publicação desta obra qualquer intenção de fazer um “ajuste de contas com o passado” nem a pretensão de um “regresso à política”.
Quanto ao timing da edição da obra, os sociais-democratas vêem-no como “um balanço do trabalho feito” numa altura em que o Governo está em final de mandato. No PSD, interpreta-se o livro como um “prestar de contas” de Miguel Relvas e do seu secretário de Estado, Paulo Júlio – que também assina a obra.
“Sejamos claros: não se trata de um ajuste de contas com o passado ou de um regresso à política activa de quem exerceu de boa-fé, com orgulho e elevado sentido de responsabilidade a missão que lhe foi conferida”, escreve Relvas na introdução do livro.
Relvas quer apenas contar a sua “experiência governativa de sucesso, não obstante as enormes dificuldades que foram surgindo ao longo do percurso e cujos contornos devem ser revelados de modo a que todos os interessados possam ficar com uma visão global acerca dos entraves superados, das etapas percorridas e dos consensos obtidos”.
Para Relvas, “os bastidores da Reforma da Administração Local representam, genericamente, os bastidores da própria governação”. O ex-ministro quer deixar um registo das dificuldades por que passou na execução da reforma. “Dificuldades potenciadas num contexto de profundo constrangimento orçamental, durante um resgate financeiro ditado por instâncias externas”, aponta, no livro, o actual conselheiro nacional do PSD.
A apresentação da obra estará a cargo de Durão Barroso, ex-presidente da CE e ex-primeiro-ministro de cujo Governo Relvas fez parte enquanto secretário de Estado da Administração Local – cargo em que deu início a esta reforma. Já o prefácio é da autoria do ex-presidente do Governo espanhol José Maria Aznar. A obra inclui textos de Marcelo Rebelo de Sousa, de Marques Mendes e de Santana Lopes.