PS pode não apoiar Nóvoa

O que, à partida, tinha sido dado como certo – o apoio do PS ao candidato presidencial Sampaio da Nóvoa – deixou de o ser. Ao que o SOL apurou, António Costa já confessou nos bastidores que o partido poderá não apoiar nenhum candidato à Presidência da República. 

E a confirmação pública chegou ontem pela voz do socialista mais insuspeito: o presidente do partido, Carlos César, o primeiro a sinalizar o apoio do PS a Sampaio da Nóvoa na corrida a Belém, admite agora, em entrevista à Antena 1, que o partido pode não dar qualquer indicação de voto. “Imagine que três ou quatro dirigentes máximos do Partido Socialista resolviam candidatar-se à Presidência da República: não nos envolveríamos num processo fratricida”, disse César. 

O anúncio de um possível apoio ao ex-reitor da Universidade de Lisboa fracturou logo o partido. Várias foram as vozes do PS contra e com críticas duras, incluindo de membros da direcção de Costa como Sérgio Sousa Pinto. A falta de experiência política, o perfil 'intervencionista' e o facto de se posicionar mais à esquerda do PS são os defeitos mais apontados a Sampaio da Nóvoa. 

Por outro lado, Maria de Belém Roseira tem sido pressionada a avançar por um grupo de socialistas que continuam a apostar numa alternativa a Nóvoa. E a ex-presidente do PS estará mesmo a considerar seriamente essa hipótese (e uma sondagem divulgada em meios privados dar-lhe-á bons índices de notoriedade espontânea, ao nível de Marcelo Rebelo de Sousa). 

António Costa tem atirado uma decisão para depois das legislativas. A três meses das eleições e com a coligação a alcançar o PS, segundo as últimas sondagens, o líder socialista não se pode dar ao luxo de ter um partido dividido, antecipada e publicamente, numa questão como as presidenciais. 

Sem o apoio oficial do PS, as contas complicam-se para Nóvoa, mais ainda se tiver um candidato forte à direita. “Vou ganhar, de uma maneira ou de outra”, afirmou Sampaio da Nóvoa esta semana, antes das declarações de Carlos César.

Já questionado sobre a possibilidade de o PS não o vir a apoiar, o candidato diz estar “certo de que os partidos, na altura própria, vão tomar as decisões”. 

Num almoço com apoiantes no Porto, onde também esteve presente o ex-Presidente da República Ramalho Eanes, Nóvoa aproveitou para lançar farpas a possíveis adversários, criticando “todos aqueles que não têm coragem, que estão a fazer contas, que estão a fazer calculismos diversos”.

sonia.cerdeira@sol.pt