PS dividido teme ‘efeito grego’ nas legislativas

O PS divide-se entre os que apoiam o Syriza e os que lhe atiram culpas. Se o discurso de Costa tem evoluído e já considera o Governo grego imprudente, Sérgio Sousa Pinto diz que não vai ser «carrasco» da Grécia para ajudar o PS a ganhar eleições. Direita está mais prudente.   

A situação da Grécia está a dividir as opiniões entre os socialistas, que temem o efeito da situação grega nas legislativas portuguesas de Outubro. Já entre os partidos da maioria PSD/CDS que, numa primeira fase, revelaram alguma euforia com as imagens que chegam da Grécia, agora a prudência é a palavra-chave.

«A Grécia é um obstáculo para António Costa», afirma ao SOL um dirigente socialista. Depois de ter aplaudido a vitória do Syriza, a sua mobilidade estratégica face à evolução da situação na Grécia ficou comprometida. E António Costa tem tentado a quadratura do círculo num PS dividido entre quem apoia o Syriza e quem o critica.

Se, por um lado, Costa já disse que «diabolizar» a Grécia é perigoso, nos últimos dias tem apontado o dedo ao Syriza. «O Governo grego foi de uma enorme imprudência», condidera o secretário-geral do PS. Já o presidente do partido, Carlos César, que desejara que «não triunfem nem os radicalismos de algumas instituições europeias, nem da outra parte», referiu ontem que as propostas do Syriza não são radicais e algumas até são iguais a medidas do PS.   

As imagens da crise na Grécia

As imagens que chegam de uma sociedade grega em crise, com os bancos fechados e pensionistas em desespero, podem ter um impacto eleitoral favorável à coligação PSD/CDS, que resolveu o resgate financeiro em Portugal. E isso preocupa os socialistas, Mas há quem não abdique de apoiar os gregos. «Não me vou tornar um carrasco da Grécia para ajudar o PSa vencer eleições», garante ao SOLSérgio Sousa Pinto. Para este secretário nacional do PS, a responsabilidade é dos gregos e dos credores, mas «entre o forte e o fraco, quando não há acordo, a responsabilidade maior é do forte».

O histório socialistaManuel Alegre foi das vozes mais fortes em defesa dos gregos, pedindo aos socialistas europeus uma posição mais firme na Europa, sem «meias-tintas», notando que o que se está a passar é uma «ditadura das finanças».

Numa tentativa de jogar no contra-ataque, os socialistas apontam armas ao Governo: «Há um aproveitamento eleitoralista da situação grega por parte do Governo, explorando o sentimento de incerteza das pessoas para se furtar a um balanço da sua governação», acusa Pedro Bacelar de Vasconcelos, membro da direcção de Costa. 

Maioria segue Grécia com «prudência»

Na maioria, as derrotas do Syriza estão a ser acompanhadas com atenção. Se, durante muito tempo, PSD e CDS repetiram à exaustão que «Portugal não é a Grécia» e usaram os gregos como a prova de que não havia alternativa à política do Governo, os últimos desenvolvimentos das negociações entre Atenas e Bruxelas têm sido acompanhados com cautela. «Prudência» é a palavra de ordem na hora de calcular os efeitos eleitorais do que se está a passar na Grécia.

«As imagens de gregos em fila para tirar 60 euros de um multibanco assustam e mostram como poderíamos estar agora», aponta um vice-presidente do CDS, admitindo que a ideia de que não será bom trocar o certo – das políticas do Governo – pelo incerto – das propostas da oposição – pode ajudar o eleitorado a decidir-se pelo voto na maioria. Mas com a situação grega a mudar ao minuto, ninguém arrisca prever que efeito terá afinal a Grécia nas legislativas. «Muda tudo muito rápido. É preciso esperar para ver o que acontece», aponta o dirigente centrista.

É, de resto, a incerteza que trava também leituras mais entusiastas do lado do PSD. «Não é bom para ninguém que isto corra mal à Grécia», comenta um vice-presidente de Passos Coelho, ressalvando que pior estarão os partidos da oposição que «defenderam posições semelhantes» às do Syriza e vêm agora as consequências dessa política: «As pessoas percebem que, se não estamos como a Grécia, isso deve-se a este Governo».

Se, por um lado, a maioria continua a acreditar na ideia da «vacina grega», há quem pense já nos efeitos económicos que uma saída da Grécia do euro pode trazer para Portugal. «Pode pôr em causa o crescimento económico» que se tem vindo a verificar nos últimos meses, admite uma fonte social-democrata.

A mesma fonte acredita que «Portugal só será indirectamente afectado pela saída da Grécia da zona euro», porque «o BCE deve intervir para criar um ring fence, que impeça as taxas de juro de disparar». Ainda assim, haverá consequências negativas para a economia. «A desvalorização do euro face ao dólar pode ajudar as exportações, mas vai fazer subir o preço dos combustíveis e fazer cair os níveis de confiança com a consequente quebra no consumo», alerta.