Salgado teria dois aliados para esconder bens

A denúncia anónima foi feita em Outubro de 2014. Mas só nove meses depois uma equipa do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária (PJ) se deslocou ao terreno. Quando os investigadores chegaram às instalações da empresa de segurança ESEGUR, no Prior…

A denúncia a que o SOL teve acesso centra-se sobretudo em dois nomes: Fernando Daniel Silva Augusto e César Sá. O primeiro era director do Departamento de Segurança e o homem que teria a chave do referido cofre. O segundo será também funcionário da empresa e membro do corpo de segurança pessoal de Ricardo Salgado.

De acordo com o documento, "no cofre da ESEGUR" estariam "guardados bens valiosos do BES, nomeadamente quadros, armas, colecções completas de moedas e outros bens" que ali estariam "em fase de transicção antes do seu descaminho para outros locais desconhecidos, certamente para a esfera pessoal e patrimonial da família Salgado".

O maior elo de ligação a essas actividades seria Fernando Augusto, "há vários anos homem de confiança da administração da ESEGUR e de Ricardo Salgado". Todas as semanas, haveria reuniões entre ambos "na residência da Comporta". Em troca, o director do Departamento de Segurança receberia "mordomias, como viagens e dinheiro".

Ao longo do texto, o denunciante vai ainda mais longe, dizendo que a empresa andava a "apoiar de forma descarada e despudorada Ricardo Salgado e a sua família após os recentes acontecimentos no BES". E alargando o rol de suspeitos que compactuariam com o antigo banqueiro na guarda de bens valiosos nas suas instalações aos mais altos dirigentes da empresa. "A administração da ESEGUR, nomeadamente o espanhol Julio de la Sen [administrador executivo] e a Drª Maria da Glória [presidente executiva do Conselho de Administração], são conhecedores e apoiantes destas actividades desenvolvidas na empresa em favor desta família".

O SOL adiantou na passada edição que na sequência de buscas à ESEGUR tinha sido detido um director do departamento de segurança. Nesse mesmo dia pediu esclarecimentos à empresa de guarda e transporte de valores, que viria a responder apenas na segunda-feira. Em comunicado, a empresa limitou-se a confirmar as buscas e a afirmar que "não foram apreendidos quaisquer documentos nem quaisquer obras de arte/quadros em cofre localizado na ESEGUR". Ao contrário do que foi divulgado por outros órgãos de informação, os investigadores não encontraram qualquer bem dos Espírito Santo naquele cofre. Foi esta a versão adiantada pelo SOL na passada sexta-feira, na edição online, enquanto decorria o interrogatório a Ricardo Salgado. Nessa data, o SOL enviou um pedido de esclarecimento ao ex-presidente do BES. Não obteve respostas. 

silvia.caneco@sol.pt