Como correu esse Barreirense contra União de Montemor, quando tinha 15 anos?
Foi o meu primeiro trabalho, a 12 de Janeiro de 1976. É o arranque da minha vida profissional, guardo-o na memória com prazer e com orgulho. Recordo sempre que o meu começo esteve muito ligado ao meu pai. Era um homem que adorava futebol e que, na sua qualidade de médico e militar, me pedia muito para eu escrever sobre aquilo que acontecia em Portugal na fase em que fez uma série de comissões no Ultramar. Era irmão do meu tio Vítor Santos, esse sim jornalista, com uma carreira feita n’ A Bola. Disse ao meu tio que o sobrinho escrevia maravilhosamente; um dia em que me pudesse dar uma oportunidade não se ia arrepender.
Como surgiu esta?
A oportunidade surgiu naturalmente. Vivia em Lisboa, o telefone tocou, era daqueles de discagem, ainda me lembro do número. Era o meu tio, chefe de redacção, a dizer que o correspondente no Barreiro estava doente e eu ia trabalhar para A Bola. Fiquei nervosíssimo, e empolgado. Lá fui, apanhei o barco. Levei uma parka com uma pelezinha ao pescoço, porque estava frio, e levava uma capa grená relativa a uns Jogos Olímpicos, com umas folhas lá dentro. É engraçado – e isto nunca disse – que encontrei o Luiz Pacheco na gare. Teve comigo uma abordagem que me ficou na memória, uma extensão daquilo que projectou para o mundo; uma grande ousadia, uma certa forma de estar irreverente.
Abordou-o?
Sim, abordou-me. «O que é que estás aqui a fazer?!» Eu não fazia ideia de quem ele era; só mais tarde percebi. Entrámos ali num diálogo. Não em lembro em detalhe; o que fica é que as coisas correram bem. O jogo foi às três da tarde, regressei, fui para casa escrever, à mão, com uma Bic. Fui entregar a um jornalista mais velho, que fazia a revisão. Disse ao meu tio que o miúdo tinha muito jeito. O que tinha escrito em primeira análise foi o que saiu, sem alterações. Nunca mais deixei de escrever. Significa que estou a poucos meses dos 40 anos a escrever ininterruptamente, mesmo com as transições. Estive 26 anos n’ A Bola. Também nunca pensei ser comentador na televisão, mas aí também não deixei de escrever. Escrevi sobre futebol e outras coisas no Correio da Manhã.
O seu pai queria que escrevesse exclusivamente sobre futebol?
Pedia-me para lhe contar sobretudo coisas relacionadas com o Sporting. Era um grande sportinguista. Tinha duas paixões, o Sporting e a Lina, mas por esta ordem. Pode parecer pouco abonatório para a Lina, mas não era. Tinha uma paixão enorme pela minha mãe, mas tinha uma super paixão pelo Sporting. Fez com que tivéssemos uma conversa chata a certa altura, face ao meu posicionamento. Achava que o Sporting estava acima de tudo. Antes de morrer disse: «Era o que faltava ter um filho benfiquista!». Morreu com a sensação de que eu era do Benfica.
E o Rui?
Não sou de ninguém. Tenho horror à posse. Não faz sentido dizer que se é deste ou daquele.
O seu pai não entenderia o superior interesse da ‘verdade desportiva’.
Não, não. Se fosse vivo hoje…tenho uma gratidão enorme, mas se calhar não era compatível a sua forma de estar com a minha. Era ultraconservador, um bocadinho monolítico, com uma concepção de democracia, enfim…nasceu em 1912. Hoje seria complicado lidar com isso. Sou muito sensível ao que é correcto. A verdade desportiva é eu achar que todos os actores do futebol devem ser colocados em plano de igualdade. Vivemos numa sociedade em que isso é quase uma utopia, mas todos devemos ter cuidado com isso. Cultivar as diferenças é bom mas para as questões macro, como a competição, deve haver mais cuidado com as regras. Isso no futebol e fora.
Essa ideia de justiça é herdada de quem?
O meu pai era um homem justo, mas o meu tio também. O meu tio foi a pessoa mais importante da minha vida. Não gosto de comparar papéis, mas o meu tio como grande jornalista que foi nunca me pegou por uma orelha e me levou à ardósia. Foi tudo por indução, pelo exemplo. Tive o privilégio de o ver a trabalhar muito cedo, em ambientes como um Sporting-Benfica, a ser respeitado de ambos os lados; e de ver uma plêiade de professores fantástica. Comparava aquela equipa d’A Bola ao Benfica do Eusébio ou ao Sporting dos Violinos. E depois entra ali um júnior.
Como viam o júnior?
Sempre me trataram muito bem. Era uma equipa homogénea mas diversificada, havia espaço para tudo. Tinha a escrita mais hermética do meu tio, a escrita literária do Alfredo Farinha, até ao humor e a pena fina do Carlos Pinhão, a fotografia do Nuno Ferrari, a escrita deliciosa do Carlos Miranda, com crónicas do ciclismo e dos olímpicos. A literatura do jornalismo foi-se perdendo pela ditadura do caracter. A imprensa traiu a sua própria essência; os jornais transformaram-se em pequenos ecrãs. Tem de haver uma diferença entre a imprensa que se vale da palavra. Escrevo para o Record e a minha escrita fica comprometida porque não tenho espaço. Gosto de metáforas, parágrafos longos.
Curiosamente, tem esse tempo longo no ecrã.
É verdade. Já estive em antena, sozinho, mais de duas horas. Com um tópico faço um programa. Não me estou a auto-elogiar, mas sou capaz disso. Quando fazemos o alinhamento fica sempre muito de fora. Sou do tempo dos continuados em broadsheet, das peças a começar na capa, a continuar na página sete e depois ainda a continuar.
Aos 15 estava a estudar?
Sim, acompanhei o meu pai numa única comissão, entre os quatro e os seis anos, na antiga Sá da Bandeira. Lembro-me dos almoços em família. Vim, entrei no externato Sá de Miranda, junto da Estefânia, e depois fui para o Colégio Militar.
Onde deu a sua primeira entrevista.
Descobri isso, e até publiquei na minha página. Foi o Rui Romano que me fez essa entrevista. Foi fazer a cobertura pela RTP de um aniversário do colégio. Lá está a minha primeira entrevista, em 1969. Estive lá até 74.
Por essa altura já viajava em trabalho?
O meu primeiro trabalho com peso foi em 1979, quando fui cobrir a final da Taça dos Campeões Europeus em Madrid, entre o Nottingham Forest e o Hamburgo, do Kevin Keeger. Tenho fotos disso. Foi apitado pelo português António Garrido. Um dos objectivos era fazer-lhe uma pequena entrevista. Ao longo destes anos todos só fiz dois trabalhos com o meu tio. Foi este e um jogo na Suíça, que envolveu o Benfica. Depois só na redacção. Tenho a convicção que apenas aproveitei uma oportunidade. Adorava e adoro futebol, hoje com uma visão diferente, claro.
Era muito romantizada?
Não, talvez por lidar com aquela gente comecei a ganhar uma consciência profissional e queria estar ao nível deles. Aqueles homens eram idolatrados. Eu adorava futebol e A Bola, não os queria envergonhar. O meu orgulho resulta do facto de ter cumprido todas as etapas de uma carreira. Jesus, os anos que passaram para eu fazer uma crónica da primeira divisão! Fiz muito trabalho de cabina, de recolher depoimentos da segunda divisão. Passaram-se meses, anos. Comecei a fazer crónicas da segunda divisão, fiz distritais, assembleias gerais dos pequenos clubes. Cedo comecei a trabalhar com o futebol jovem, também. Ganhei a percepção de que o importante era trabalhar a base. Vejo o futebol como uma pirâmide, subjacente ao trabalho das academias, que chegaram a Portugal com 30 anos de atraso. Somos um país fantástico porque, mesmo com esse défice estrutural, temos jogadores maravilhosos.
Imagina-se no lado das decisões, na Federação por exemplo?
Costumo dizer uma coisa: de facto já podia ter sido muita coisa no futebol. Se tivesse, primeiro, um olhar de negociante, que não tenho; e se me aproveitasse de determinadas situações, que também não faço. Quando comecei quando jornalista levei as coisas tão a sério que nunca pensei em mais nada senão morrer jornalista. Por me ter transformado num jornalista de opinião, entendi que uma carreira assim só é possível se não fizer concessões, não facilitar, para ser a opinião mais pura possível.
Como se consegue isso?
É um exercício muito difícil. Não sou nenhum bicho do mato, nem quero ser, mas tenho muitos cuidados. Se não, amanhã estou a misturar questões de natureza afectiva com questões de natureza profissional. Tenho relação com actores do futebol, gosto mais de um que outros.
É possível ter verdadeiros amigos?
Tenho poucos. Quando começo a perceber que se aproximam de mim para tentar contaminar a minha opinião, rapidamente fecho a porta. Toda a gente tem o meu número, estou sempre aberto, mas tenho regras.
Ainda pensam ser possível condicioná-lo?
Não, acho que hoje sabem que não é fácil. Às vezes mesmo assim tenho de pôr os pontos nos is. Hoje é tudo mais complicado. A crise trouxe com ela questões que são muito humanas. Não critico posicionamentos neste tempo. Só que consegui reunir condições para poder dar resposta a essas situações.
Costumamos ficar com a ideia de que o mundo do futebol é relativamente imune à crise…
Mas não é. E temos sinais claros disso. Esse pensamento dominou anos porque o futebol esteve sempre acima de tudo, hoje não é assim. Estamos a falar dos clubes grandes, fundamentalmente. Esta época, o que aconteceu no Benfica, levávamo-nos a análise profunda. É a consciencialização de que os tempos mudaram, e não é possível fazer mais piruetas. A racionalização do futebol é a coisa mais difícil. Às vezes sinto que estou numa auto-estrada, no sentido contrário, mas esse é o papel do jornalismo. Se conseguir ter tempo de vida para fechar este meu ciclo, acho óptimo, mas é apenas uma questão de postura. Agora, os anos vão passando e hoje já tenho uma visão diferente. Se é verdade que nunca me teria transformado num empresário de futebol, se tivesse outra forma de estar tinha-me aproveitado de uma série de situações.
Por exemplo?
Não me corre sangue de empresário nas veias, mas se fosse chico esperto… Vi os primeiros jogos da geração do Figo, Rui Costa, hoje homens feitos. No futebol acho que podia ter sido um bom jogador.
Jogava bem?
Jogava muito bem, pelo menos as pessoas diziam, já antes de escrever. Podia ter feito uma grande carreira como jogador. Mas lá está, as coisas às tantas não são compatíveis. Há a ideia de que quem não jogou federado não tem tanta autoridade para falar. Acho que é um logro. Podia ter acontecido. Se calhar também podia ter feito alguma coisa como treinador. Depois há outra coisa, eu não acredito neste modelo, que é a projecção dos ditames da FIFA. As federações são escravas da UEFA e da FIFA. Os actores são marionetas. Só era capaz de assumir um papel se o Estado se impusesse ao nível do desporto. Eu tinha de ter poder. Poder para transformar, não para me sentir realizado. Vivemos num tempo de escrutínio mas no futebol, nos casos da arbitragem, a decisão de um árbitro não pode ser rectificada na hora. É como passar à condição de arguido e ser condenado em primeira instância. O erro prevalece, e tem influência na gestão de um clube, no despedimento de um treinador. A indústria do futebol alimenta uma coisa desconchavada. Passámos da fase de lazer, artesanal, em que nem havia balizas, para regras do século XIX que se mantiveram intocáveis. Há sofisticação em tudo mas a arbitragem parou no tempo – e aceita-se isto. Por isso sou a favor da introdução das novas tecnologias. Às vezes sinto-me sozinho nisto.
É uma espécie de árbitro solitário.
Já me chamaram ‘o verdadeiro regulador disto tudo’ [risos]. Não é que persiga esse papel mas, às vezes, se calhar tenho esse papel, pequenino, residual. Sabe qual é o meu maior inimigo? É o facilitismo, as ondas que se geram através de um sistema proteccionista, que faz com que as causas mais difíceis sejam abandonadas por serem difíceis.
Sente que o seu discurso dá frutos?
As pessoas estão atentas, as do futebol e as que têm influência. Sabem o que é dito, e tenho noção disso. Às vezes não é reconhecido directamente. Tenho uma coisa que devia ser creditada mas que é um problema: antecipo muitas coisas, digo-as é no momento errado. As pessoas normalmente torcem o nariz. Passado um tempo…Esta coisa do Jesus, a dificuldade de enquadramento no Benfica, andava a reflectir sobre isso há muito tempo. Não me apanhou de surpresa. Às vezes podia guardar para coincidir com a turba e até tirar mais benefício disso. Mas lá está, o meu papel também é antecipar.
Que acontecimento não conseguiu prever de todo?
Apesar de tentar racionalizar as coisas, não em função do que gostaria que acontecesse mas daquilo que pode acontecer, tinha esperança que o Apito Dourado desse prisões à séria. Mas neste país nada dá prisões à séria, tirando um caso ou dois, e mesmo assim com todas as pressões e mentiras. É complicado. Ponho-me no lugar dos juízes. Nem Portugal dá condições aos profissionais da Justiça, nem aos amadores da justiça desportiva. Já imaginou o que era prender à séria um presidente de um clube grande? O significado que isso teria? O futebol tem um lado maravilhoso, mas tem um lado perigoso, perverso.
É mais fácil prender um banqueiro ou um ex-primeiro-ministro?
É mais fácil. É bom para qualquer democracia que os cidadãos percebam que há uma correspondência entre o que pagam de impostos e os benefícios para a sociedade. Era importante que a Justiça fizesse a diferença entre quem está nessa democracia participativa de forma activa, positiva, e quem não está. No futebol é a mesma coisa. Há muita gente a aproveitar-se de muita coisa que não é lícita. A questão das offshores é vital. Quando o poder político não ataca isso como devia…
Somos mais complacentes pela questão passional?
Claro. É a parte emocional do futebol. As pessoas não olham para a gestão se houver resultados desportivos. É mais fácil manter uma presidência anos a fio, mesmo que se esteja a cometer erros graves de gestão, se houver resultados. Os tempos que vêm aí estão a impor que o fenómeno das regulações seja mais responsável. Sou a favor da Casa das Transferências, até tenho um contador no Tempo Extra. Não há maneira porque dão dinheiro a muita gente, não interessa serem declaradas num organismo próprio. Falo nestas coisas e às vezes acho que estou um bocado a falar para o boneco. São matérias sensíveis e há pouca gente descomprometida com o futebol-negócio e com a política-negócio. E muita gente com a percepção de que é quase inútil furar isto. Na política ou no futebol, é preciso que haja minorias ruidosas. Gosto de ver pessoas na televisão que mostrem desalinhamento, porque é assim que também estou. Às vezes falo comigo e faço uma conta de merceeiro.
Se falasse bem das maiorias seria mais fácil tê-las na mão.
Pois, e a dizerem bem de mim, e a não me enviarem emails chatos. Não é esse o meu papel. Gosto de fazer o mais difícil, de apelar à reflexão. Há uma cultura de seita nos clubes para a qual não tenho de dar nada. Só o jornalismo me deu alguma coisa na vida. O futebol nunca me deu nada. Não recebi um tostão do futebol. Estou livre disso. Já não sou tão fundamentalista nessa ideia de morrer jornalista. Gostava, se reunisse condições para isso. Tenho horror às incompatibilidades.
Que poderia fazer então?
Não sei…gosto de desafios, de ser desafiado. Se for desafiado…mas é difícil.
Algo ligado ao futebol?
Sim, à minha área. Estou realizado, gosto de futebol, de falar de futebol.
Consegue não falar de futebol?
Ah, é essencial. Tenho dificuldade, tenho pouco tempo, mas a vida não é o futebol. Gosto de comer bem, de viajar, de ir aos sítios, de descansar, de meter o nariz nos museus. Aqui consigo ir, mas muito pouco. Hoje temos tantas ferramentas em casa.
E não é abordado como na rua.
Já tive alguns episódios desagradáveis que são públicos, mas tive-os antes da exposição na televisão. Já os tinha. A maior parte das situações de abordagem são muito positivas. A minha reacção quando são menos agradáveis é «deixe lá isso». E depois uma semana sou associado ao Benfica, na outra ao Sporting, depois ao Porto. Este ano construí uma liga com relatórios e o Porto ficou à frente. As pessoas afectas ao Benfica acham que sou antibenfiquista. Eu não assumo clube porque não tenho. Não me lembro de ter ido com um cachecol para um campo de futebol.
Vai aos estádios?
Para a bancada? A SIC desafiou-me para fazer comentário de jogos no tempo da Liga Europa e da Taça da Liga. Havia a ideia de que só funciono sozinho no estúdio; foi o mito que me arranjaram. Lá fui para o terreno. Acompanhei o Benfica, fui a Liverpool, tive os adeptos a chamarem-me como se fosse do Benfica. A seguir, a Taça da Liga, que me obrigava a ir aos campos dos grandes. Diziam-me que ia ser uma chatice andar nos campos. Benfica, tudo bem, Sporting, tudo bem, no Porto achavam que não ia sair de lá. Fui muito bem recebido, nenhum problema, até fui elogiado. Bem sei que basta uma ignição para acontecer algo, mas quero desconstruir esse mito. Só não vou hoje aos estádios porque não preciso disso para fazer o meu trabalho.
E como adepto de futebol?
Para ver futebol a sério não é nos campos portugueses. Sou adepto do bom futebol. Era para ir à final da Liga dos Campeões, fiz tudo direitinho, fui ao site da UEFA, fiz pré-reserva, paguei, e depois não fui contemplado. Chapeau! [risos]. Era no meu dia de anos, ainda por cima. A SIC não tinha os direitos.
Essa estreia na SIC deu-se há mais de dez anos. Dizia que nunca pensou ir para a TV.
Não. Aliás, começo a ir à TV ainda como chefe de redacção d’ A Bola. Não me sentia muito confortável. Só passei a ter lugares de chefia depois da morte do meu tio. Quando passei a ter essas responsabilidades eu era um bicho do trabalho. Lembro-me que quando foi o Mundial de 2002, estava já em ruptura com A Bola, falei das novas tecnologias na RTP. Depois a SIC Notícias também me convidou. As coisas começaram a acontecer, audiências, foi tudo muito rápido. O Tempo Extra consolidou-se como um programa que gosto. E tenho a hipótese de entrar no debate, no formato do Play Off.
Qual a receita das audiências?
Apesar de não alimentar as turbas, de não ser um transmissor de propaganda, acho que essa diferença provoca curiosidade. Tento fazer o meu trabalho de casa. Às vezes é difícil. Isto está muito difícil para jornalistas efectivamente livres, e temo muito que a prazo este ciclo se feche. Se calhar vou ter uma desilusão na minha vida, que é não conseguir ver provado que o jornalismo editorial, e não apenas comercial, é um bom negócio.
Com tantos negócios pelo meio, mal tivemos férias nesta pré-época.
As minhas férias estavam programadas mas por razões particulares não pude fazer o que queria. Este ano, em função da bomba atómica Jesus, tivemos um defeso agitadíssimo. São férias activas, quase sem parar. O campeonato vai ser o mais agitado dos últimos anos, com mais casos. Benfica e Sporting estão em mudança de ciclo. Jesus no Sporting vai motivar transformações óbvias; o Benfica tem eleições em 2016, o que acontecer agora vai ser vital. O Porto também está em fim de ciclo. Se não ganhar terá consequências.
Lembra-se de um ano tão agitado?
Lembro-me da ida do Futre para o Porto, da vinda do Jaime Pacheco para o Sporting, do Paulo Sousa para o Sporting. Mas um treinador, não. Se Jesus tiver êxito no Sporting vem ao de cima a razão pela qual o Benfica o deixou sair. Ao contrário, se o investimento em Jesus também não tiver resultados, é problemático. O Porto apostou tudo o ano passado, se não tiver também resultados vai discutir-se a sucessão de Pinto de Costa.
Arrisca palpites?
Quem vai ganhar? Quem está mais em risco é o Benfica, que estava em crescendo, quebrando a hegemonia do Porto. A saída de Jesus do Benfica é um erro histórico. E com uma hemorragia de jogadores é complicado. Embora, isto está tudo tão frágil entre os três que pequenas coisas podem fazer a diferença.
Às tantas ganha um clube à margem dos três grandes?
Gostaria muito que isso acontecesse mais vezes. A alternância é boa.
Se hoje o desafiassem para ir ver um Barreirense-União de Montemor?
Ia com muito gosto. É um regresso às origens.
Ainda joga à bola?
Tenho uma vida mais sedentária, mas até há dez anos jogava muito, na brincadeira. Fazia torneios. Passava as aulas no Colégio Militar a alinhar as turmas, depois no Camões, e no Académico, e na Católica.
Imagina como seria se o convite para escrever tivesse chegado ao mesmo tempo de um convite para jogar?
Não sei…como comecei tão cedo nos jornais, aos 15, tudo o resto parou à minha volta. Concretizei um sonho. Se tem acontecido ao mesmo tempo…provavelmente tinha optado pelo jornalismo.
maria.r.silva@sol.pt