A polémica dos cartazes deixou à vista as fricções internas na direcção do PS. «Há amadorismo a mais e falta de uma voz de comando no Largo do Rato», resume um histórico. Antes da demissão de Ascenso Simões de director de campanha, a sua relação com o responsável de comunicação, Porfírio Silva, já tinha tido momentos de confronto.
Em finais de Maio, Ascenso Simões publicou um artigo de opinião no SOL defendendo a abolição dos contratos de trabalho. Porfírio Silva criticou a oportunidade de um artigo fora da linha política do partido, dando origem a uma troca de acusações nas páginas do Facebook. O diálogo terminou com Ascenso a afirmar categoricamente ao camarada que não aceitava limitações ao seu direito de opinião. Dois meses depois, os cartazes de Edson Athayde, aprovados por Porfírio Silva, levaram a novo embate interno.
PS antecipa cartaz de Costa
Esses outdoors de grafismo new age, mais próximos de seitas religiosas, foram ridicularizado nas redes sociais. E um grupo de descontentes avançou com uma iniciativa paralela. A guerra de números sobre o desemprego entre Governo e PS foi a «oportunidade política», nas palavras de um dirigente socialista. Mas o tiro saiu pela culatra após o Observador noticiar a história de uma figurante que não deu autorização para a sua cara aparecer nos cartazes e cuja história não corresponderia à realidade.
O PS pediu desculpas – num comunicado mais recuado que a sua primera versão, para não dar azo a mais respostas – e Ascenso Simões avançou no Facebook um novo cartaz, com a cara de António Costa e o slogan «É tempo de confiança». Segundo o SOL apurou, este outdoor estava previsto aparecer mais à frente mas acabou por ser antecipado para estancar a campanha negativa. Menos de 24 horas depois, Ascenso demitia-se. António Costa estava de férias, mas atento, e foi o director de campanha a assumir as responsabilidades. «O episódio dos cartazes tratou-se de uma sucessão de equívocos, um caso lamentável e, por isso, pedimos desculpa», disse o líder do PS, em entrevista à Visão.
Nos bastidores, refere-se agora que Ascenso e Edson «já tiveram o seu tempo». O protagonismo assumido pelo ex-director de campanha ao dar entrevistas e ao encabeçar a lista de deputados por Vila Real também deu falatório.
O «amadorismo» deste episódio tem sido repetido entre as hostes socialistas que tentam agora virar a página, com um dos homens fortes de Costa a comandar as tropas: Duarte Cordeiro, uma figura «mais consensual», diz ao SOL outro dirigente do PS.
Socialistas no contra-ataque
Os socialistas foram rápidos no contra-ataque à coligação denunciando que os figurantes dos cartazes do PSD/CDS são afinal estrangeiros. As fotos foram retiradas de um banco de imagens, um recurso comum em publicidade.
Depois deste caso, que não fez tanto buzz como o do PS, na coligação há o receio de que os socialistas andem à pesca de novos testemunhos duvidosos e falhas na comunicação dos partidos do Governo.
O PS tenta enterrar a polémica e afinar a estratégia. «O foco vai ser mostrar as diferenças entre o programa do PS e da coligação, nomeadamente ao nível da devolução dos rendimentos às famílias e empresas e nos serviços públicos», afirma fonte da campanha ao SOL. A aposta será o contacto directo com mais acções de rua que vão começar em força já na próxima semana. «Queremos passar a confiança no candidato e no programa», refere um membro do Secretariado Nacional. O objectivo é captar os indecisos: «Falta fazer a campanha. O alinhamento eleitoral faz-se nestes dois meses que restam», afirma outro secretário nacional.