Já em Abril passado a revista The Economist escrevia que “a desaceleração da China ainda conta com espaço para o crescimento e uma razão importante é que se trata de uma economia de tamanho continental, que desfruta de muito mais do que uma ou duas indústrias”.
Na semana passada, quando o crash na bolsa chinesa abalou os mercados, as opiniões dividiram-se. Muitos especialistas acreditam que o impacto é preocupante mas que a China terá capacidade para ultrapassar as dificuldades na economia interna. O facto de a economia norte-americana começar novamente a crescer poderá atenuar a crise chinesa.
Mas em que medida a desaceleração económica da China poderá afetar a economia portuguesa e o mercado imobiliário, que tem dependido muito do investimento chinês? Mesmo que tenha sido noticiado que haveriam chineses a vender casas depois de ser anunciada a crise da bolsa, Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário (CPCI), garante ao SOL que não tem conhecimento de qualquer situação sobre esse movimento, antes pelo contrário. “O que sabemos é que existe uma grande preocupação com a atual falta de resposta aos pedidos de vistos gold, que continuam em suspenso, situação que está a causar alguma apreensão junto dos potenciais investidores”, revela o responsável.
Reis Campos indica que, apesar da crise na China, a procura se mantém em Portugal em níveis elevados. “O próprio Governo, ao alargar o regime a áreas como a Reabilitação Urbana e ao majorar o investimento em territórios de baixa densidade, reconhece este potencial, o qual que resulta da qualidade da nossa oferta e dos preços praticados, que são muito atrativos à escala internacional”, salienta.
Crise traz oportunidades
Na opinião de Reis Campos, o impacto da crise na China depende em grande medida da capacidade de reação e de reposicionamento da economia portuguesa. Se as ameaças são conhecidas, as oportunidades também são evidentes. Portugal tem condições para ultrapassar esta situação e até para retirar efeitos positivos de uma eventual alteração nos fluxos económicos mundiais.
“O imobiliário é um caso paradigmático”, sustenta, argumentando: se é verdade que uma possível retração chinesa pode gerar menos procura para investimentos imobiliários por parte de cidadãos deste país, seja por intermédio do programa dos vistos gold seja pelo investimento em ativos imobiliários, também é verdade que, no atual clima macroeconómico, o investimento em Portugal apresenta uma relação de risco/retorno crescentemente atrativa, face a muitos outros mercados. “Afirma-se como uma evidente alternativa para os investidores”.
O presidente da CPCI adianta ainda que é preciso não esquecer outras vertentes do investimento estrangeiro em imobiliário que têm ganho cada vez mais expressão, como é o caso do Regime de Tributação de Residentes Não Habituais, cujo segmento-alvo são famílias de elevados recursos, predominantemente europeias. E assinala ainda os efeitos positivos da dinâmica no turismo e o nível atual das taxas de juro, fatores que não estão necessariamente em causa com esta crise chinesa. “Portugal tem de afirmar com convicção que é um destino atrativo para o investimento, designadamente imobiliário. O volume anual de investimento externo em ativos imobiliários portugueses ascende atualmente a 2,6 mil milhões de euros e tem potencial para continuar a crescer sustentadamente”, conclui.