“Nem todos os refugiados são cientistas. Não aceito a ideia de que a Europa só pode estar aberta para os altamente qualificados. Pode e deve estar aberta para os que vivem do mundo rural”, afirmou Costa, durante a viagem de comboio que está hoje a fazer, numa ação de campanha que liga Lisboa ao Porto.
O líder do PS justificava assim as palavras de ontem que geraram polémica e as notícias de que queria colocar os refugiados acolhidos por Portugal a limpar florestas. “Nós devemos ser pró-activos. Felizmente este Verão tem sido piedoso para a nossa floresta, mas quando vejo os proprietários, autarcas das zonas de pinhal a queixarem-se da falta de mão-de-obra para a manutenção do pinhal penso ‘mas está aqui tanta população que está habituada ao trabalho agrícola, tanta população que tem capacidade de trabalhar nesta floresta, porque não criamos aqui uma grande oportunidade de recuperar o património que temos? Criar uma nova oportunidade de vida para estas pessoas é a melhor forma de desenvolver o nosso próprio território”, afirmou Costa, durante um debate sobre políticas sociais na quinta de manhã.
A crise demográfica na Europa foi outro dos factores apontados por Costa para o acolhimento de refugiados: “A Europa tem que perceber que não só tem o dever mas o interesse em acolher estes migrantes, estes refugiados. A Europa tem, Portugal tem um problema demográfico imenso. As contas estão feitas, mesmo que resultassem melhores planos de aumento da natalidade continuaríamos a ter um problema demográfico no futuro. O equilíbrio demográfico só será assegurado se houver mais imigração”.
As ideias de Costa para os refugiados inflamaram as hostes da direita. O vice-presidente do CDS Nuno Melo criticou a “instrumentalização” desta questão: “Nem tudo pode ser instrumental e nem sequer numa campanha pode valer tudo para se tentar conseguir alguns votos. Se entendemos que quem venha deve ser acolhido com humanismo não podemos ver nessas pessoas um pretexto para resolver um problema”. Já o vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva, que tal como Nuno Melo falava na Escola de Quadros do CDS, em Ofir, criticou o “oportunismo”. “Não é uma avaliação de mérito económico, de oportunidade económica do acolhimento, o que está em causa é saber se a Europa da paz, a Europa dos cidadãos, que conseguiu durante estes 50 anos reforçar estes princípios, está ou não à altura das suas responsabilidades”, afirmou. Também nas redes sociais foram várias as críticas a António Costa.
As críticas à direita foram acompanhadas pela defesa de Costa por parte de alguns socialistas. “Quem tiver lições a dar a António Costa, que levante o braço e mostre os seus créditos. Até lá, tenham vergonha de usar os refugiados como carne para canhão de demagogia eleitoral”, afirmou Porfírio Silva, membro do Secretariado Nacional, no Facebook.
Já a presidente do Conselho Português para os Refugiados (CPR), Teresa Tito de Morais, afirmou que as declarações de Costa foram “descontextualizadas” e admitiu que “os refugiados podem ter um efeito positivo no sector agrícola”. “As palavras de António Costa foram descontextualizadas. Não tenho dúvidas da sensibilidade e preocupação de António Costa para com a questão dos refugiados”, afirmou Teresa Tito de Morais, colocando como prioridades “o ensino da língua portuguesa, a colocação das crianças nas escolas e a atribuição de um trabalho adequado às pessoas e aos sítios para onde elas vão”.