Costa irrita-se com jornalista da RTP

António Costa ficou ontem irritado com algumas perguntas do jornalista da RTP que o entrevistava, acusando-o de usar a argumentação da coligação de direita.

“Estou a perceber que está aqui um bocado como porta-voz de Pedro Passos Coelho”, acusou o líder do PS quando o jornalista Vítor Gonçalves lhe pediu para apontar dois ou três exemplos de diferenças substanciais entre as propostas do PS em 2015 e em 2011.

Já na parte final da entrevista de 45 minutos, Costa voltou a criticar a escolha das perguntas, quando o jornalista da RTP insistiu na questão sobre as contas apresentadas no programa eleitoral do PS: “Acho muito estranho que o senhor tenha muitas dúvidas relativamente ao único partido que apresentou as contas e não tenha dúvida nenhuma quanto aos partidos da coligação que não apresentam contas nenhumas”.

“Não estou a entrevistar o líder da coligação”, respondeu Vítor Gonçalves. “Está aqui a repetir a argumentação da coligação. Desculpará mas está”, devolveu Costa. “Somos os únicos que fizemos as contas. Foram feitas de forma prudente e conservadora. Sabemos que outros não apresentam contas e na experiência governativa falharam todas as contas”, concluiu.

Costa disse não estar nesta campanha “disponível para perder a credibilidade” acumulada “ao longo de anos na política”, apontando as diferenças do seu currículo para Passos Coelho. “Herdou dívida e aumentou 19%, eu herdei dívida e diminuí 40%, ele aumento os impostos eu diminuí, cortou no investimento, eu aumentei”. E prosseguiu no mesmo tom em relação ao entrevistador: “Do atual primeiro-ministro eu não recebo lições de contas públicas. E relativamente às suas perguntas tenho a dizer que pode fazer as perguntas todas que quiser. De uma coisa pode ter a certeza, o único partido que tem compromissos escritos e contas feitas é o PS”.

Foi nesta altura que o líder do PS ofereceu a Vítor Gonçalves um documento: “Vou-lhe oferecer um resumo do estudo de impacto do programa do PS. Uma versão abreviada que já percebi que tem pouco tempo”. E ainda terminou dizendo que assim o jornalista não repetiria as “críticas que sem legitimidade a coligação direita costuma fazer sem ter o trabalho de apresentar contas”.

Vítor Gonçalves justificou-se: “Estar a fazer questões não tem a ver com outros partidos. Estou-lhe a fazer perguntas e é esse o meu único objetivo na conversa consigo”.

Os erros da Grécia e a chaga da corrupção

Costa apontou dois erros ao Governo de Tsipras, na Grécia. “Primeiro quanto ao método. Achou que se resolvia com uma proclamação unilateral”, disse o líder do PS, para quem a solução passa por uma negociação no quadro europeu. “O segundo erro: ter posto como questão central e primeira o debate da dívida”, referiu. Para o secretário-geral socialista deve haver “flexibilidade” para negociar na União Europeia.

Sobre os compromissos assumidos pelo PS, Costa garantiu que são para cumprir: “Faremos no Governo o que dizemos na campanha eleitoral que fazemos”.

Já sobre a corrupção, a primeira pergunta feita pelo jornalista da RTP, o líder do PS disse ser uma “chaga que põe em causa a democracia e o seu fundamento”. E apontou como sendo “uma das prioridades da política criminal”. Costa aproveitou para mostrar o seu currículo na área da Justiça, quando foi ministro, sublinhado que a legislação feita na altura ainda está em vigor.

Questionado sobre se é aceitável que haja alguém preso preventivamente durante um ano sem acusação formada – numa referência a José Sócrates -, Costa defendeu que a prisão preventiva deve ter um “caráter excecional” e que o prazo entre a abertura do processo e a sua conclusão “deve ser o menor possível”. 

sonia.cerdeira@sol.pt