RTP mantém Prós e Contras polémico: há interferências políticas na Justiça?

A RTP vai manter a emissão do programa Prós e Contras, apesar de uma nuance no nome do tema que vai ser debatido, após protestos de vários socialistas. 

“Alguém acredita que se o PS estivesse no Governo haveria um primeiro-ministro sob investigação”. A pergunta lançada pelo eurodeputado Paulo Rangel, na Universidade de Verão do PSD, no final de Agosto, deu o mote para o Prós e Contras que será emitido hoje, na estação pública de televisão. “A pergunta agita o país. Há interferência dos partidos no sistema judicial? Existe ou não politização da justiça? A força da comunicação social e a pressão da sociedade. Os meios técnicos e humanos e as sucessivas reformas. A independência da justiça no centro do maior debate da televisão portuguesa”, foi assim que o programa foi apresentado na página oficial do Facebook.

Mas após vários protestos do PS, incluindo pedidos de demissão do diretor de informação da RTP, a televisão pública alterou o tema no site. “A independência da Justiça” passou a ser o tema a debater na emissão de hoje, apesar de as questões subjacentes continuarem as mesmas.

PS protesta

O tema mereceu duros protestos por parte dos socialistas, inclusive pedidos de demissão do diretor de informação da RTP, Paulo Dentinho. “O director de informação da RTP, Paulo Dentinho, só tem uma alternativa: demitir-se”, defendeu João Galamba, membro do Secretariado Nacional do PS, no Facebook. Também a deputada Isabel Moreira questionou a direção de informação da televisão pública, na mesma rede social: “A RTP é prostituída disfarçando um ataque parcial a uma campanha eleitoral que se quer isenta e o diretor de informação vai continuar em funções?!”.

Já o ex-director de campanha do PS, Ascenso Simões, dirigiu uma carta aberta ao presidente do Conselho de Administração, Gonçalo Reis, e ao director de informação, onde pedia a mudança do tema do programa. “Protesto e solicito uma atitude. Se ela não existir, através da reformulação do tema do debate, mais não posso que considerar que a RTP fez uma opção partidária. Que nestas eleições optou por atacar o PS, maltratar os seus militantes e provocar os seus votantes”, escreveu Ascenso Simões, no Facebook. A diretora do jornal do PS Acção Socialista, Edite Estrela, apelou à Justiça: “Deve ser piada de mau gosto. A televisão estatal vai mesmo dedicar um PeC ao dislate de Paulo Rangel? E os representantes do poder judicial nada têm a dizer? E o PR [Presidente da República]?”.

O ex-ministro de Sócrates Augusto Santos Silva acusou mesmo a RTP de “tentar influenciar o sentido da campanha”. “Depois, não sei qual é o objetivo do programa. Mas não tenho dúvidas sobre o efeito: ecoar ilegítima e desproporcionadamente um ponto do ataque da direita ao Partido Socialista”, acusou Santos Silva, no Facebook. “Interrogo-me sobre se não haverá, nos responsáveis da RTP pela organização e o conteúdo do Prós e Contras, um mínimo de sensatez. Ou se o desespero é assim tanto que já vale usar todas as armas, mesmo as mais velhacas, para tentar influenciar o sentido da campanha”, concluiu. 

sonia.cerdeira@sol.pt