Costa e Jerónimo: um pacto de não agressão

Foi um debate morno e sem surpresas entre António Costa e Jerónimo de Sousa, com apenas uma divergência de fundo: a saída de Portugal do Euro. Da educação à saúde, passando pelo emprego e segurança social, o líder do PS e o secretário-geral do PCP mostraram-se quase sempre em sintonia, num pacto de não agressão. 

 “Tenho a certeza que em grande parte do que diz respeito ao dia-a-dia dos cidadãos – empresas, economia, escola pública e saúde – é possível um diálogo”, assumiu António Costa. Com um mas: “Há uma divergência de fundo sobre a qual o PCP tem que ser mais claro do que foi aqui hoje. A destruição da união económica e monetária e a rutura com o Euro é uma dificuldade estrutural”. É que, defende Costa, o PS tem um “programa viável no quadro europeu” sem “correr esse risco da saída do Euro”. Já para Jerónimo as “divergências de fundo” com o PS não se resumem à saída de Portugal do euro, apontando outras três áreas: Segurança Social, legislação laboral e política económica.

O líder do PS mostrou-se aberto ao diálogo com o PCP após as eleições, mas não deixou de apelar ao voto útil: “Para que a coligação de direita seja derrotada é essencial que o PS ganhe”. Enquanto o secretário-geral dos comunistas, apesar de dizer que não faltará a um “diálogo sincero” para uma política de esquerda, afastou o PS. “O caminho para o desastre levado a cabo por PS, PSD e CDS precisa de ter uma rutura e mudança e nesse sentido o que o PS propõe não é uma rutura, é continuidade”, defendeu.

Ao longo do debate, os dois líderes partidários foram expondo os seus programas em áreas-chave como a saúde, educação, emprego e segurança social, sem confronto. E mesmo as poucas provocações, que partiram sempre de Jerónimo de Sousa, foram feitas em tom amigável com respostas no mesmo tom por parte de Costa. Apenas a 15 minutos do fim o debate animou um pouco, depois de uma pergunta sobre impostos. “Em termos de política fiscal, creio que António Costa deu um exemplo concreto: não se compromete”, criticou Jerónimo de Sousa, lembrando que o PS não define objetivos nem os quantifica porque depois não os concretiza.

Outra provocação de Jerónimo prendeu-se com o aumento do salário mínimo, um valor que os comunistas fixam nos 600 euros e que os socialistas não definem: “É pena que o PS considere que tem que ser em sede de concertação social avançar com uma proposta de salário mínimo. Está dependente das confederações patronais é isso que significa”.

Jerónimo de Sousa e António Costa concordaram que deve haver uma aposta na escola pública e na saúde. Costa aproveitou para lembrar a proposta do PS para repor os valores das taxas moderadoras ao nível de 2011 e Jerónimo mostrou-se contra a “linha de privatização” da escola pública, feita pelo Governo, um “elitismo” com o qual Costa também discordou.

Já sobre o Novo Banco, cujo cancelamento da venda foi anunciado esta semana, Jerónimo defendeu que o Estado “deve manter o controlo do banco”. “Porque é dinheiro nosso que está ali metido. Ou será uma situação tipo BPN?”, questionou. Costa acusou Governo e governador do Banco de Portugal de “falta de credibilidade total” na forma como lidaram com o processo, ao garantirem que “não teria custo para os contribuintes”. “O Governo tem de explicar o que aconteceu e a situação em que estamos”, argumentou. 

sonia.cerdeira@sol.pt