‘Falta empurrão político, disse Carlos Costa’

A estratégia dos lesados do BES passa por manter a pressão sobre Passos e Portas e há uma razão inesperada para isso: uma certeza dada pelo governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, à Associação dirigida por Ricardo Ângelo.

“Carlos Costa disse-nos nos olhos que só faltava um empurrão político para resolver o problema”, revela ao SOL. A afirmação do governador reforçou a ideia de Ricardo Ângelo de que, ainda que tenha a certeza de poder ganhar nos tribunais, haverá vias mais rápidas para resolver o problema. E é por isso que os lesados não vão sair das ruas nos próximos tempos.

“Vamos continuar as manifestações. Estamos nisto há nove meses e não vamos parar”, promete, sublinhando que desde Fevereiro – o primeiro momento em que deixou de haver a garantia de que o Novo Banco pagaria o papel comercial – a mobilização tem sido crescente.

“A maior parte dos lesados são reformados. Têm tempo. E estão desesperados. Têm motivação”, avisa, dizendo que não os demoverão as barreiras “antimotim” que estão à porta da sede do Novo Banco nem o gás pimenta que foi usado na manifestação da semana passada em Lisboa.

Ricardo Ângelo acredita que terão de ser os políticos a resolver  um problema que tem na sua origem uma questão claramente política. “A resolução encontrada foi uma forma de tirar a troika de Portugal mais rapidamente”, defende, explicando que “usar o fundo de resolução da banca implicaria um prolongamento do programa de assistência financeira”. A opção foi, por isso, “usar um modelo que nunca tinha sido testado na Europa” e esquecendo alguns passos, como “a salvaguarda dos clientes”.

O presidente da Associação dos Lesados do BES afasta, porém, a ideia de um apelo a ações mais agressivas. “Não somos a favor da violência. Temos feito apelos nesse sentido no fórum que mantemos na internet”, assegura, revelando que é, no entanto, cada vez mais difícil conter o ímpeto de quem se sente roubado e não tem muito a perder.

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“Já encontrámos enxadas num autocarro que ia para uma manifestação e convencemos as pessoas a não as levar”, conta Ricardo Ângelo que desmente as teorias de que haja agitadores infiltrados no movimento, já que todos se conhecem. “Isso é impossível”, garante.

margarida.davim@sol.pt