Quando os políticos capitulam face ao poder das televisões e da publicidade

No confronto televisivo entre Passos Coelho e Catarina Martins, a líder do Bloco de Esquerda lançou uma reclamação: “Acho complicado que a coligação, e nomeadamente o PSD, não tenha permitido que estes debates estivessem em canal generalista, para não serem vistos só por quem tem de pagar a taxa”. Passos, solícito, não se ficou: “Eu…

Mas a verdade é que foram os partidos que aceitaram este modelo restritivo de debates imposto pelas televisões. Em que só um, o megadebate entre Passos e Costa, passaria em todos os canais generalistas, chegando a um largo número de portugueses (quase três milhões e meio, e 69,5% de share). E em que todos os outros seis frente-a-frentes seriam remetidos para os canais de informação por cabo, com audiências minoritárias (a oscilar entre 100 mil e 220 mil telespetadores) e shares mínimos de 2% a 5%.

O que isto significa, sem disfarces nem meias palavras, é a capitulação da política perante os poderes mediático e económico. As televisões – TVI, SIC e RTP – colocam o critério das audiências e da publicidade acima de qualquer outra consideração, cívica, social ou de esclarecimento político. E não estão dispostas a sacrificar o share de uma das suas muitas novelas ou reality shows do prime-time por um frente-a-frente partidário que teria metade ou um terço da audiência.

Ora, quem se sujeita a este tratamento depreciativo, quem não se dá ao respeito, quem não sabe exercer a autoridade e a legitimidade de que está investido, não venha depois queixar-se de infortúnios e desconsiderações. Como fizeram Catarina e Passos. Foram eles que aceitaram os termos destes debatezinhos em modelo de vão de escada.

A comprovar e acentuar o desrespeito a que os políticos se resignam, os dois candidatos a primeiro-ministro permitiram, pela primeira vez, que se parasse o debate para entrar um intervalo de 6 minutos de publicidade. Só falta colocarem sponsors no cenário…

E até a Liga de Futebol já se atreve a marcar jogos dos ‘grandes’ para o dia das eleições, a ver se aumenta ainda mais a abstenção. Perante a inação do Governo que tutela o Desporto. Depois, não se queixem.

jal@sol.pt