"Não tenho no bolso nenhuma sondagem nem possibilidade de fazer uma afirmação rigorosa. Infelizmente, mais uma vez, o PCP teve razão e esses portugueses desiludidos, particularmente do PSD e até do CDS, deviam considerar que foram enganados, sofreram as consequências nas suas vidas desta política – houve responsáveis concretos, aqueles partidos em que votaram – e têm uma opção, venham dar força à CDU para ver se conseguimos inverter este rumo", disse Jerónimo de Sousa.
Envolvido por uma multidão, que a organização do desfile estimou em cerca de 2.000 pessoas, desde a praça Paiva Couceiro até à praça do Chile, o líder comunista foi distribuindo sorrisos, apertos de mão e até fez um vigoroso "sprint" de 30 metros, rua Heróis de Quionga acima, a pedido de duas crianças, Hussein e Ricardo, suas admiradoras "da televisão".
"Temos de fazer pelos refugiados aquilo que é possível, tendo em conta a situação económica e social do país. Com sentido da medida e das nossas disponibilidades, que mantenhamos esta tradição democrática de há muitos anos, para não dizer séculos, de receber, enquadrar e tratar estes cidadãos", afirmou, questionado sobre a crise de migrantes do Médio Oriente.
Para Jerónimo de Sousa, "deveria ser o Governo português e não qualquer entidade estrangeira a definir critérios, números e quantidades". O secretário-geral comunista manifestou ainda a "profunda convicção", pelos contactos de rua que vai tendo, de que os partidos que integram a coligação PàF estão "socialmente isolados, politicamente condenados e, eleitoralmente, vão sofrer uma derrota".
As declarações aos jornalistas foram proferidas imediatamente antes da correria que pôs seguranças e comunicação social em alerta, quando Jerónimo de Sousa abandonou o desfile e foi à loja de mobiliário da família moçambicana de Hussein Pereira para conhecer o irmão, Eric.
Antes, na praça Paiva Couceiro, foi tempo de "reunir as tropas" e as bandeiras. A banda Charanga Huga do Rosário (Moita do Ribatejo) ensaiava, enquanto dezenas de cartas e peças de dominó eram batidas por reformados e pensionistas nas improvisadas mesas de jogo do jardim.
Num universo esmagadoramente masculino, Maria Rodrigues, Olina Tomás, Cidália Leonardo e Idalina Dias, com idades entre os 66 e os 78 anos, ocupavam, "como todos os dias, num entretém para não pensar em nada", uma das mesas de sueca, discutindo sobre o trunfo definido anteriormente.
"Eu gostava era que eles fizessem uma aliança socialista (PS e PCP). Tenho pouca cultura, mas sei ver as coisas. Então, agora os outros (PàF), já deu hoje nas notícias, mais um grande buracão… (défice de 7,2% face ao estimado de 4,5% devido à intervenção no Novo Banco)", desejou Maria Rodrigues, criticando ainda os comunistas por estarem sempre a dizer mal do PS, porque "fica mal".
Idalina Dias, mais desconfiada das câmaras de televisão e gravadores, só falou ao ouvir o nome do antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, atual candidato a primeiro-ministro do PS, António Costa, que, "esse, sim, é fixe", adiantando já ter definido o sentido de voto há muito tempo e "dali não passa".
Numa outra mesa, Jorge Sequeira, 68 anos, precisamente a mesma idade de Jerónimo de Sousa, tentava perceber como estava o resultado do seu Oriental, atual 19.º classificado do segundo escalão de futebol diante do Estoril-Praia, quinto da I Liga, a contar para a Taça da Liga.
"Esses da coligação (PàF) que venham para aqui que vão ver, são corridos a toque de caixa!", prognosticou. "Normalmente, voto mas é em casa, mas desta vez vou lá", acrescentou o homem, "nado e criado no Alto do Pina", reservando para si qual a opção política para 04 de outubro.
Lusa/SOL