A tática de Passos Coelho para tirar gás aos protestos

A coligação já encontrou a fórmula certa para fugir às situações mais complicadas na reta final da campanha. Este sábado, usou a estratégia com eficácia em Paços de Ferreira.

Tal como prometeram, os lesados do papel comercial do BES fizeram uma espera à caravana da coligação no ponto que estava marcado para o contacto com a população de Paços de Ferreira.

Junto ao coreto, empunhavam bandeiras e usavam megafones e buzinas, enquanto iam tentando gritar palavras de ordem e passar a mensagem. Mas logo aí entrou em ação o plano da PàF para lidar com os protestos.

Os militantes começaram por abafar o som dos manifestantes, com colunas de som a tocar no máximo o hino da campanha.

E a partir daí foi ver com mais gritava, numa luta de meios desigual, tendo em conta a quantidade colunas espalhadas pelo jardim.

Ao mesmo tempo que a guerra sonora se desenrolava junto ao coreto, as tropas de Passos e Portas iam realinhando-se e preparando uma reação.

Enquanto um membro da campanha tentava negociar umas tréguas sonoras com os lesados do BES, já os seguranças redefiniam o trajeto do líder da coligação e iam chegando mais e mais apoiantes da PàF ao centro de Paços de Ferreira.

Solução encontrada: o local do “contacto com a população” anunciado na agenda passou para o lado oposto do jardim, onde a escadaria da igreja serviu de palco improvisado para os apoiantes da coligação formarem um cenário de bandeiras.

Na cabeça dos responsáveis pela organização, duas preocupações: evitar que Passos Coelho se envolvesse num diálogo direto com os manifestantes que pudesse ser captado pelos microfones e conseguir uma imagem colorida de laranja e azul para as câmaras.

Mais uma vez, a rua foi o palco de uma coreografia bem desenhada para conseguir a melhor imagem para as televisões. “Preciso de gente aqui”, dizia um dos militantes, que ia dispondo os apoiantes com as bandeiras.

O lugar que cada um ocupa é quase sempre orquestrado de forma a que não só se garanta que os líderes apareçam sempre com uma moldura entusiasmada nas televisões e jornais, mas também que se forme uma espécie de ‘caixa de segurança’ para garantir que ninguém indesejado se aproxima.

Houve até uma alteração para garantir que Passos não ficava sozinho no meio dos protestos.

A seguir ao almoço os jornalistas foram avisados de que Paulo Portas não iria ao encontro com a população que estava anunciado. Mas quando o líder da coligação apareceu, não estava sozinho: Portas apareceu ao seu lado e foi até o primeiro a usar da palavra para repetir a mensagem que tem sido o prato forte dos discursos. “A coligação propõe um Governo moderado para todos”, dizia o líder do CDS.

Para garantir que a voz de Passos e Portas se sobreporia a qualquer protesto, houve até uma inovação. Os líderes da coligação usaram um megafone para se fazerem ouvir.

Evitar erros continua a ser a palavra de ordem, apesar de na comitiva se começar a acreditar que os protestos estão a perder impacto.

margarida.davim@sol.pt